17 setembro 2012

O MENINO DA SUA MÃE – 2

 Não conhecendo o seu autor, conhece-se ao menos as circunstâncias que conduziram ao tema da fotografia acima: um último e desesperado ataque suicida diante das bocas-de-fogo norte-americanas levou a juncar uma praia de Saipan de cadáveres japoneses (abaixo), à mercê de serem lambidos e devolvidos pelo ciclo interminável das marés. Mas a maior crueldade da fotografia talvez seja a facilidade com que se esquece que o soldado era um soldado, pela pose defensiva, inocente, até mesmo infantil como a morte o fixou. Era a fotografia ideal para ilustrar O Menino da Sua Mãe, que não cheguei a encontrar, quando a ele aqui me referi. Permitam-me a repetição... 
No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
- Duas, de lado a lado -,
Jaz morto, e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.

Tão jovem! Que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino da sua mãe».


Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
"Que volte cedo, e bem!"

(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.

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