Será
possível respeitar-se uma atitude de alguém sem que se concorde com a forma
como essa pessoa a justifica? Maria Teresa Horta é a responsável por esta
elaboração quase bizantina de um dilema. É uma proeza apreciável especialmente
quando vinda de alguém por quem já aqui mostrei não ter consideração. Este blogue exaltou-lhe a bisonhice, quando resolveu escrever para o director do jornal reclamando do
conteúdo de um artigo de… O Inimigo Público. Nessa altura realcei (aí pela décima
vez) o facto (que aparecerá mencionado talvez pela milésima vez) de Maria
Teresa Horta ser sempre a Maria de serviço quando de qualquer alusão às três ditas,
todas autoras de igual destaque do livro das Novas Cartas Portuguesas (abaixo).
É esta
indiciada propensão para um exibicionismo não justificável, ainda por cima a cavalo de um livro
fortemente datado, que tornam mais antipáticos os discursos enfadonhamente assertivos de Maria Teresa
Horta. Aquele em que ela fundamenta a sua recusa em receber o prémio literário que lhe atribuíram das mãos de Passos Coelho está repleto dessas exuberâncias: o primeiro-ministro está determinado a
destruir tudo aquilo que conquistámos com o 25 de Abril – com liberdade
poética, Pedro Passos Coelho torna-se assim uma encarnação do Mal; sou uma
mulher de esquerda, (…), sempre lutei pela liberdade e pelos direitos dos
trabalhadores – esclareça-se que uma coisa não implicará a outra, há quem tenha
lutado pela liberdade sendo de direita, há quem seja de esquerda e o tenha
feito pela implantação da ditadura do proletariado.
Porém, dislates à parte, tenho que
respeitar a atitude de Maria Teresa Horta em rejeitar a cenografia que a Fundação
Casa de Mateus havia montado para a outorga do prémio. No meio de tanta
proclamação apaixonada, a premiada foi suficientemente cuidadosa para
distinguir entre o prémio e o júri e a operação de charme montada pela
Fundação junto do poder político. Afinal, nunca foi indispensável um
primeiro-ministro para entregar um prémio literário, pois não?... Para rematar,
divididos entre aquela eterna querela se é o prémio que confere prestígio ao
premiado se o inverso, o comportamento do presidente da Fundação, Fernando Albuquerque, não mostra dúvidas qual a sua opinião anunciando o cancelamento da
cerimónia. Nada melhor que uma decisão despeitada para reforçar a categoria da
atitude de Maria Teresa Horta…
Agora, só para chatear quem ainda queira
apreciar este episódio numa lógica de trincheiras esquerda/direita e se sinta vitorioso com o
seu desfecho, assinale-se que o vencedor do mesmo prémio de há dois anos foi a História de Portugal de Rui Ramos (e Bernardo Vasconcelos e Sousa e Nuno Gonçalo Monteiro)…
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