No princípio deste ano foram muito comentadas as imagens acima, de um diálogo privado entre Wolfgang Schäuble, o ministro das finanças alemão, e o seu homólogo português Vítor Gaspar, onde o primeiro manifesta a sua disponibilidade para que se aliviem as condições impostas a Portugal. Por cá, houve menos críticas à forma sub-reptícia como as imagens haviam sido captadas do que à atitude condescendente manifestada por Schäuble. Se bem me lembro, na SIC Notícias Ruben de Carvalho até chegou a comprová-lo pelo seu gesto de ter permanecido sentado forçando Gaspar a inclinar-se – ignorando que Schäuble é paraplégico¹…
Agora que a poeira assentou, vale a pena rever as imagens. Recorde-se que a reunião teve lugar em princípios de Fevereiro de 2012, quando as taxas de juro da dívida portuguesa haviam subido de forma descontrolada – não foi por acaso que anteontem Vítor Gaspar comparou a situação actual dessas taxas com os valores de 31 de Janeiro de 2012… A posição portuguesa seria portanto particularmente frágil quando Vítor Gaspar agradeceu a oferta e, em vez de sondar ou até negociar com Schäuble sobre o conteúdo daquilo que lhe poderia ser oferecido, reagiu pondo-se a reafirmar os méritos da conduta portuguesa até aí…
Aparentemente, para todos nós que não conhecíamos as personalidades dos intervenientes, e naturalmente tendenciosos por fervor patriótico, parecia que havia ali um negociador temível, daqueles habilidosos que conseguem receber uma oferta criando a impressão que fazem o favor de aceitar… Mas o passar do tempo pode-nos ensinar se soubermos aprender... Enquanto o férreo Schäuble se congratula solidariamente com os efeitos que as reformas estejam a produzir em Portugal e com as recentes decisões do Tribunal Constitucional alemão, apercebemo-nos que a rigidez de Gaspar podia ser muito mais do que um mero expediente negocial…
¹ É conhecido que os convidados para aquele programa de Mário Crespo só precisam de possuir simpatias políticas inequívocas, não é preciso conhecerem minimamente os assuntos a discutir…
¹ É conhecido que os convidados para aquele programa de Mário Crespo só precisam de possuir simpatias políticas inequívocas, não é preciso conhecerem minimamente os assuntos a discutir…
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