República
Velha é a designação hoje consagrada no Brasil para o período da sua Primeira República (1889-1930). O regime ganhou outras alcunhas, como República dos
Bacharéis, República Maçónica e a minha favorita, quase sinónima da anterior, a
de República da Bucha, sendo a dita Bucha uma corruptela de Bürschenschaft
(confraria universitária), que era
o nome de uma sociedade secreta da Faculdade de Direito da Universidade de São
Paulo por onde quase todos os presidentes do regime passaram. Aliás,
em paralelo à história principal, permitam-me referir que são exemplos
históricos como estes que me levam a acolher com o maior cepticismo as proclamações que se façam a respeito da inocuidade dos propósitos destas organizações secretas. De uma forma simplificada: a humanidade dividir-se-á
entre aqueles que aceitam fazer parte dessas organizações secretas e os outros que
não. Creio que assiste a estes últimos a liberdade de exercerem a sua dúvida metódica
quanto à benevolência das intenções dos primeiros… Mas o que torna caricata a forma como os
protagonistas da República brasileira eram eleitos não tem propriamente a ver
com os aventais que envergariam, antes com os resultados eleitorais oficiais que
legitimaram as sucessivas escolhas dos titulares.
Nas eleições
de 1894 Prudente de Morais venceu com 88,4% dos votos. Quatro anos depois, em
1898, Campos Sales recebeu 91,5%. Em 1902 Rodrigues Alves alcançou os 93,3%. Em
1906, o esmagado de 1894, Afonso Pena, esmagou por sua vez a oposição com
98,3%. Em 1910, nas eleições mais disputadas até então, Hermes da Fonseca ganhou-as
com 64,5%. E depois tudo voltou ao normal: em 1914 Venceslau Brás recebeu 91,7%
dos votos. Em 1918, um regressado (do mandato de 1902-06) Rodrigues Alves fixou
na altura o recorde em 99,7%. Infelizmente, morreu da gripe espanhola antes
de tomar posse e em 1919, Epitácio Pessoa teve de se contentar com uns meros 71,1%. Torna-se
um resultado honroso quando se esclarece que o candidato nem participou na
campanha eleitoral por estar ausente em Paris a tratar das negociações do
Tratado de Versalhes… E quando a tendência parecia indicar para que as eleições
passassem a ser progressivamente mais verdadeiras e mais disputadas, quando em
1922 Artur Bernardes as venceu com 59,5%, em 1926, com Washington Luís,
regressou-se ao quase unanimismo – 99,8%. Não é de estranhar que tenha sido através
de um golpe militar que o regime foi deposto, em 1930, em substituição de
mais outras eleições disputadas…
Em Angola, depois dos 81,7% alcançados em 2008, José Eduardo dos Santos e o MPLA foram reeleitos desta vez com 72,2% dos votos. Inspirados pelo exemplo lusófono acima, percebe-se porque creio ser ingénuo pensar, depois destas demonstrações, que por si só as urnas poderão provocar a transformação do regime angolano…Quando cair, há-de ser com estrondo.
Sem comentários:
Enviar um comentário