01 julho 2007

O 11 de MARÇO de 1975 e o MINI BALEADO

Começo por explicar como este poste surge por acidente. A ideia original era falar de perseverança – aí hei-de voltar noutro poste posterior – mas essa história começava pelas consequências de um episódio ocorrido durante a tentativa de golpe de estado de 11 de Março de 1975 que, pelos vistos, anda completamente desaparecido da blogosfera e da internet, em cronologias como esta feita por Daniel Oliveira há mais de três anos, ou em páginas institucionais como a do site histórico da RTP especialmente dedicado à cobertura televisiva daquele acontecimento, assim como outras páginas.
O episódio omisso a que me refiro é daqueles indesmentíveis na sua substância, porque foi filmado por uma equipa de televisão a trabalhar para uma cadeia estrangeira (salvo erro, francesa) que estava nas proximidades da porta de armas do então RAL 1* durante os acontecimentos. O que recordo do filme, que só anos depois passou em Portugal, mostra um Mini com dois ocupantes (um condutor e uma acompanhante) que abranda e pára perante uma barricada montada por militares diante do quartel. Não se percebe o que se terá passado enquanto o carro esteve parado, há várias versões sobre a troca de palavras…

As imagens de maior impacto surgem depois de fazerem sinal ao Mini para prosseguir, quando, à medida que o carro se afastava se começam a ouvir tiros esparsos até que o Mini acaba por parar. As câmaras aproximam-se dele e vê-se os dois ocupantes cobertos de sangue enquanto ainda se consegue ouvir da assistência um desagradabilíssimo Estes já não fazem mal a ninguém… Essas imagens, de origem estrangeira mas referentes a um importante acontecimento passado em Portugal, permaneceram por anos desconhecidas dos portugueses, num Portugal que se orgulhava do fim da censura e da liberdade da informação…
Em contraste, essas mesmas imagens foram transmitidas na altura por quase todas as televisões da Europa ocidental, causando ao PREC um verdadeiro desastre de relações públicas: o condutor morrera e a acompanhante ficara gravemente ferida. Numa tentativa de golpe que, apesar do espectáculo, provocara apenas, feliz e oficialmente um morto (o reverenciado soldado Luís, a última vítima do fascismo…) a omissão de 50% dos mortos resultantes dos acontecimentos, na pessoa de um transeunte civil morto à frente de quase todos os telespectadores europeus, foi uma decisão ridícula.

Torna-se penosamente ainda mais ridícula 32 anos depois. Já aqui me referi a como, não reconhecendo de maneira nenhuma o mérito, reconheço o esforço de Adelino Gomes em permanecer o guardião de uma certa verdade de certos episódios jornalísticos que ele cobriu de maneira particularmente facciosa, como é este caso do acontecimentos à volta do RAL 1 em 11 de Março de 1975. Ler-se o site da RTP a eles dedicado – com a inevitável fotografia e depoimento de Adelino Gomes – é extremamente instrutivo sobre uma forma de preservação de uma certa maneira de contar toda aquela história...
Escrito mais de 25 anos depois dos acontecimentos, mas preservado à época nas partes principais (como que cheirando a naftalina), todo o texto não esconde as suas simpatias pelo lado vencedor (que a menção a um assassinato de um civil por um destacamento de soldados demasiado nervosos do lado vencedor iria estragar…) e termina referindo-se a um irónico encontro entre Diniz de Almeida e o capitão dos pára-quedistas, como tudo se tratasse de um enredo de um western, com cow-boys e índios, onde nem vale a pena perder tempo a fixar o nome dos maus – no caso, o capitão dos pára-quedistas

Do Mini baleado, como de resto acontece nas outras referências que visitei, nem sombra… Foram omissões como esta que transformaram depois todo este assunto numa bandeira da direita (do jornal O Diabo) e seguidamente numa vitória sua, quando os responsáveis pelos disparos acabaram por ser levados a tribunal e julgados. Mas parece que há pessoas a quem nem mesmo a via experimental - deixem para lá o rigor histórico... - parece ensinar alguma coisa…

* A unidade só passou a designar-se por RALIS no seguimento dos acontecimentos do 11 de Março de 1975. Aliás, uma das anedotas imediatas dos acontecimentos foi a do seu resultado: RAL 1 Spínola 0.

Quero agradecer a fotografia central – retirada do blogue A Catedral.

2 comentários:

  1. Porque VIVI todo o Processo, anterior e após 25-A, posso garantir que, no essencial, o texto traduz o que se passou.
    Quanto à síntese da questão, discordo, porque, todos sabemos que "aquilo" teve o cunho Soviético, "ajudado", pelos peões de brega de Cunhal- os micro partidos de extrema esquerda, em especial. o Mais violento e Criminoso, o PRP-BR, das assassina FP25.
    Depois há-no mesmo dia e seguinte(11 e 12)as Estranhas Nacionalizações, do paranóico Vasco/Muralha...que, estou à vontade para escalpelizar. E há o capitão - Menor, o filho dos AM: Almeidsa(Minis...) mais conhecido, na época pelo "Fitipaldi dos ralis. explicarei, mais tarde, se a vossa curiosidade o solicitar!! melhores cumprimentos.

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  2. Agradeço o comentário, mas dispenso a explicação, já que a minha curiosidade está satisfeita a respeito do rigor da sua memória: a alcunha de Dinis de Almeida era «Fittipaldi (com dois tt) DAS CHAIMITES».

    Fittipaldi do nome do condutor brasileiro Emerson Fittipaldi que ganhara o campeonato mundial de Formula 1 no ano anterior (1974) e as Chaimites as viaturas blindadas de transporte de pessoal (vbtp) que o exército português então empregava e onde os "operacionais" do Copcon faziam grandes correrias Lisboa fora.

    Mas obrigado pela disponibilidade.

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