13 julho 2007

…E OUTROS…

Confesso que sempre antipatizei com o gesto (que felizmente está a sair de moda) de oferecer, normalmente aos mais jovens, como prenda de Natal ou de aniversário, um cheque disco ou um cheque livro. Por um lado, por ser normalmente um gesto com toques de pretensioso: porque não um cheque roupa, um cheque calçado, um cheque gelados ou guloseimas? Por outro, por se apresentar como um gesto livre – é para comprares o que quiseres... – quando limita as escolhas ao estabelecimento onde foi emitido. Além disso, ilude na forma, que não na substância, o facto de que o oferente não faz a mínima ideia quais são os gostos do presenteado. Na realidade, o primeiro deu ao segundo dinheiro num envelope, mas faz questão que não pareça isso…
Vai animada aqui pela blogosfera a recepção que comunistas (e também ex-comunistas) têm feito ao livro de Zita Seabra, Foi Assim. Para mim, a de Vítor Dias vale mais do que a recensão que dele fez hoje José Manuel Fernandes no jornal. Embora discordantes é sempre bom ler recensões em que se perceba que o livro foi lido, ao contrário do que aconteceu com Marcelo Rebelo de Sousa, que o criticou no Domingo passado na RTP por não ter qualquer anexo explicativo das siglas - que afinal está na página 439… É o que dá ter pouco sono e aproveitá-lo para folhear os livros em 4 horas... Às vezes, quando um livro se revela chato também faço isso, mas depois não digo que o li… e muito menos ouso comentá-lo! Mas veio a propósito da polémica associada ao livro de Zita Seabra que me recordei daquele fraseado típico de comunistas e ex-comunistas, que se detecta imediatamente nos seus textos e discursos. É disso que este poste trata.

Creio já ter aqui mencionado o excesso de colectivismo demonstrado por Jerónimo de Sousa quando designou, na última eleição presidencial, a sua candidatura como a nossa candidatura ao cargo de presidente, num acto onde a Constituição apenas contempla candidaturas individuais… Enfim, são estribilhos, como a própria Zita Seabra se queixa, difíceis de perder. Outro deles é a obrigatoriedade da adição da expressão e outros quando se refere o elenco de um qualquer órgão colectivo. Parece simpático, soa bonito e será mais igualitário adicionar aquela expressão como forma de demonstrar que ninguém do colectivo foi descriminado. Mas como as experiências de leitura dos textos me demonstraram, os outros, ou não interessaram para o processo da tomada de decisão ou, se interessaram, não interessa agora ao redactor do texto destacar que o fizeram.
Aliás, suponho que deva existir uma espécie de livro de protocolo comunista para essas nomeações. Havia uma ordem obrigatória (e independente do peso eleitoral respectivo…) com que se apresentava a composição das amplas frentes da esquerda: primeiro os comunistas, depois os socialistas e no fim os outros democratas… Outros democratas que já se sabiam quem eram (em Portugal, o MDP/CDE) e mesmo que houvesse falta de genuínos, os comunistas arranjavam sempre alguns… Para mim, o ritual da menção quase obrigatória aos outros tem algo de parecido com a etiqueta da oferta do cheque livro: assim como há aqueles que decidem e são os que interessa mencionar e que se transforma em pró-forma (educado, mas supérfluo num partido de acção como os comunistas) mencionar outros, também quem oferece um cheque livro, por muita sofisticação que queira atribuir ao gesto, está a dar dinheiro em vez de uma qualquer prenda de sua escolha pessoal…

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