Tenho por adquirido que não basta apenas denunciar injustiças. Mesmo entre aquelas que são consensuais, reconhecidas por quase todos (como parece ser o caso da situação actual em Darfur, no Sudão), tem que haver sempre um ou mais elementos no sistema que tenham capacidade de intervenção e que estejam interessados em corrigir as referidas injustiças. Também é bem possível que as novas regras poderão produzir, por sua vez, outras injustiças e assim o ciclo continuará…
O que as três pessoas retratadas neste poste terão em comum, para além de todas serem membros destacados do aparelho judicial dos seus países, e desse países serem culturalmente aparentados (Itália, Espanha e Portugal) é a coincidência de terem sido os protagonistas de equipas que criaram momentos de inflexão na aplicação da justiça quando aparentemente parecia não haver elementos nos vários sistemas onde intervieram que estivessem interessados em corrigir as injustiças existentes.
O italiano Antonio di Pietro (acima) foi a cara mais visível da equipa que procedeu à exposição do corrupto sistema político vigente na Itália desde o fim da Segunda Guerra Mundial, num processo que ficou conhecido pelo nome de Operação Mani Pulite (mãos limpas) em 1992. O sistema político acabou por ruir e reformar-se, mas parece que a causa próxima para isso terá sido o fim da Guerra-Fria e a possibilidade de haver finalmente rotatividade dos partidos no poder.
Entre os casos de maior exposição internacional associados ao espanhol Baltazar Garzon, conta-se o pedido de extradição de Augusto Pinochet por responsabilidade pela tortura e morte de cidadãos espanhóis no Chile, enquanto o ex-presidente estava em tratamento no Reino Unido (1998). O incidente foi sobretudo um embaraço para as diplomacias internacionais ao confrontá-las com a aplicação prática dos seus discursos sobre direitos humanos. Pinochet acabou por se escapar e retornar ao Chile…
Finalmente, Maria José Morgado tornou-se a face da equipa de investigação do processo designado por Apito Dourado. É inequívoco que, por detrás da indignação pública, não existe ninguém verdadeiramente interessado em desmanchar a imensa teia que as notícias mostram parecer cobrir os órgãos dirigentes do futebol português, envolvendo os membros da federação portuguesa de futebol, da liga de clubes e dos clubes propriamente ditos*.
Como aconteceu com o sistema político italiano, que não caiu por causa de di Pietro, como aconteceu com a diplomacia internacional, que só continua a reparar na questão dos direitos humanos quando lhe dá jeito, também desconfio, resulte o que resultar dos processos de Maria José Morgado, que a gestão do futebol português, falha de quem lhe queira impor rigor, há-de continuar a ser a fraude de sempre. Haverá alguém entre os leitores a quem o nome Inocêncio Calabote ainda diga alguma coisa?
* Há uns anos atrás, Artur Jorge tentou concorrer ao cargo de presidente da federação em alternativa a Gilberto Madaíl: nem conseguiu reunir o número de assinaturas necessário para o efeito… Nem a União Nacional de Salazar conseguia isso!
O italiano Antonio di Pietro (acima) foi a cara mais visível da equipa que procedeu à exposição do corrupto sistema político vigente na Itália desde o fim da Segunda Guerra Mundial, num processo que ficou conhecido pelo nome de Operação Mani Pulite (mãos limpas) em 1992. O sistema político acabou por ruir e reformar-se, mas parece que a causa próxima para isso terá sido o fim da Guerra-Fria e a possibilidade de haver finalmente rotatividade dos partidos no poder.
Entre os casos de maior exposição internacional associados ao espanhol Baltazar Garzon, conta-se o pedido de extradição de Augusto Pinochet por responsabilidade pela tortura e morte de cidadãos espanhóis no Chile, enquanto o ex-presidente estava em tratamento no Reino Unido (1998). O incidente foi sobretudo um embaraço para as diplomacias internacionais ao confrontá-las com a aplicação prática dos seus discursos sobre direitos humanos. Pinochet acabou por se escapar e retornar ao Chile…
Finalmente, Maria José Morgado tornou-se a face da equipa de investigação do processo designado por Apito Dourado. É inequívoco que, por detrás da indignação pública, não existe ninguém verdadeiramente interessado em desmanchar a imensa teia que as notícias mostram parecer cobrir os órgãos dirigentes do futebol português, envolvendo os membros da federação portuguesa de futebol, da liga de clubes e dos clubes propriamente ditos*.
Como aconteceu com o sistema político italiano, que não caiu por causa de di Pietro, como aconteceu com a diplomacia internacional, que só continua a reparar na questão dos direitos humanos quando lhe dá jeito, também desconfio, resulte o que resultar dos processos de Maria José Morgado, que a gestão do futebol português, falha de quem lhe queira impor rigor, há-de continuar a ser a fraude de sempre. Haverá alguém entre os leitores a quem o nome Inocêncio Calabote ainda diga alguma coisa?
* Há uns anos atrás, Artur Jorge tentou concorrer ao cargo de presidente da federação em alternativa a Gilberto Madaíl: nem conseguiu reunir o número de assinaturas necessário para o efeito… Nem a União Nacional de Salazar conseguia isso!
Inocêncio Calabote?
ResponderEliminarComparado com aquilo que por aí anda... é um anjinho e, se derem tempo ao Conselho de Arbitragem, ainda pode ser canonizado!
Esqueci um pormenor!
ResponderEliminarInocêncio Calabote foi um visionário: um Galileu Galilei da arbitragem.
Ainda a FIFA não sonhava com os tempos de compensação, já ele os aplicava!!!
Mais uma achega para o "fomos nós sempre os primeiros"...