01 julho 2007

TESES IMPOPULARES

Na impossibilidade de as compreender no original, pela informação que a imprensa disponibiliza, a culpa principal do ministro da defesa do Japão, Fumio Kyuma (abaixo), foi a de ser excessivamente honesto. Embora os cabeçalhos das notícias prefiram dizer que ele defendeu ou justificou o emprego pelos norte-americanos das duas bombas atómicas no final da Segunda Guerra Mundial, em Agosto de 1945, pela substância das mesmas parece-me que a expressão preferível seria dizer que ele compreende a decisão norte-americana, em função do quadro estratégico envolvente – já por mim abordado num outro poste em Fevereiro passado.
A tradição fazia com que a política externa do Japão fosse sempre a de se armar em vítima (a única da história) do armamento nuclear. Só que a tradição já não é o que era… E o ministro da defesa do Japão tem de se preocupar com as perspectivas futuras do seu país, numa região onde o investimento no nuclear da Coreia do Norte e a percepção dum aumento futuro do potencial estratégico chinês se tornam cada vez mais incomodativos. Perceber a decisão norte-americana parece ser, à boa maneira japonesa, sempre cheia de subtilezas, mais uma tentativa de retirar a questão do armamento nuclear do domínio das emoções para o domínio da razão.
Trata-se de teses que são tão impopulares que nem chegam a ser discutidas. Ao mesmo nível, só me lembro de um comentário de Aristides Pereira (acima), ex-presidente de Cabo Verde, questionando-se se Cabo Verde não teria ficado materialmente muito melhor se, em vez da independência, não se tivesse tornado uma Região Autónoma portuguesa como a Madeira e os Açores – um verdadeiro anátema sobre a existência de um país, proferido por quem fora o seu supremo magistrado! Mas essa tese pode esperar para quando, na ordem internacional, a moda do nascimento de novos países der lugar à do desaparecimento dos pequenos países inviáveis…
Só que no Extremo Oriente, o ritmo de alterações da situação estratégica tem sido tal que os dirigentes japoneses não se podem permitir o luxo de que haja a transição descansada que desejariam da sua opinião pública, para a aceitação de que o seu país seja uma potência dispondo de armamento nuclear. É isso que provoca as modificações que levaram a que a tradicional agência japonesa de defesa se tivesse transformado num ministério a partir de Janeiro deste ano (acima, fotografia da cerimónia, com o ministro em saudação ao lado do primeiro-ministro Shinzo Abe). E é isso que os faz correr em declarações como estas… seguidas de explicações, rectificações e pedidos de desculpa, mas com as declarações já proferidas.

1 comentário:

  1. É um problema sério este sentimento que o "guarda-chuva" americano já não dá para tudo.

    Não ficava mal aos nipónicos terem uma atitude semelhante ao dos alemães após o termo da Segunda Grande Guerra.

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