Embora tenham passado a maior parte da Segunda Guerra Mundial sem se defrontarem, Soviéticos e Japoneses chegaram a vias de facto por duas vezes, precisamente no mesmo local, a Manchúria, e justamente antes da Guerra começar, entre Maio e Setembro de 1939, e mesmo quando estava a terminar, em Agosto de 1945. Sobre o primeiro embate, que ficou conhecido pelos soviéticos por Khalkhin Gol, já tive aqui oportunidade de me referir.
Vale a pena descrever o segundo embate, que também é conhecido pelo nome dado pelos soviéticos à campanha (Operação Tempestade de Agosto), e o efeito que ele provocou entre os dirigentes japoneses enquanto eles procuravam uma solução para pôr fim à Guerra mais benigna do que a Rendição Incondicional que fora imposta aos alemães. Recorde-se que, de 1939 a 1945, existira um estado de neutralidade entre o Japão e a União Soviética, formalmente reconhecida por um Tratado de Não Agressão que fora assinado em Abril de 1941, numa daquelas situações onde os comunistas (portugueses) adoram empregar a expressão confluência de interesses.
Ambos os signatários reconheciam que possuíam potenciais inimigos mais importantes (a Alemanha no caso soviético, os Estados Unidos no japonês) e estabelecia-se um acordo tácito em colocar as divergências (que as havia, muitas, herdadas desde a Guerra que travaram em 1905) no congelador até à situação mundial evoluir. Embora essa fosse desde sempre a opção da União Soviética, havia sido necessário dar uma tareia a uma das facções japonesas mais radicais em Khalkhin Gol em 1939, para que a diplomacia nipónica pensasse da mesma forma.
Mas, nos princípios de 1945, com a derrota da Alemanha praticamente adquirida, a situação estratégica já havia evoluído de tal forma em favor da União Soviética que era esta que estava disposta a romper o Pacto e a recuperar a situação no Extremo Oriente que a Rússia perdera em 1905. Diga-se, em abono da verdade, que, contrariamente ao que mais tarde se escreveu, os Aliados (Estados Unidos e Reino Unido) encaravam com muito interesse a participação soviética na Guerra contra o Japão.
Registe-se que foi por negociação com os Aliados que os soviéticos se comprometeram na Conferência de Yalta (Fevereiro de 1945) a intervir na Guerra contra o Japão até 90 dias depois do fim da Guerra na Europa. E seria um reforço bem-vindo porque, segundo o calendário de operações que os norte-americanos haviam estabelecido para a derrota do Japão, as verdadeiras invasões do Japão estariam previstas para Novembro de 1945 (a ilha mais meridional) e Março de 1946 (a ilha principal).
Assim a 8 de Agosto de 1945, três meses escrupulosamente contados após a assinatura da rendição da Alemanha (8 de Maio de 1945), a União Soviética declarou Guerra ao Japão, numa campanha em que o maior destaque vai para a proeza logística da transferência de muitas das unidades de elite do Exército Vermelho ques estavam na Europa Central e Oriental para o Extremo Oriente e a concentração ali de milhão e meio de homens com uma superioridade material para os japoneses de 5:1 em blindados e artilharia e de 5:2 em aviação.
Entres os responsáveis japoneses, onde, em meados de 1945, muitos já se haviam resignado a iniciar o bailado diplomático em que pudessem minorar as condições da derrota, a neutralidade soviética era um activo importante a ser explorado nas aproximações aos Estados Unidos, aliado da União Soviética na Europa. A 29 de Julho, crendo estar a deixar subtilmente portas abertas, a diplomacia nipónica resolve ignorar o ultimato que lhe foi emitido pelos Aliados anglo-saxónicos por ocasião da Conferência de Potsdam (Julho de 1945). Resultado da clivagem cultural entre os beligerantes, esta ignorância deixa os norte-americanos possessos…
Só que todo este cenário sofreu uma reviravolta dramática nos princípios de Agosto de 1945. A arma atómica que, até Julho de 1945 fora apenas um projecto (e portanto excluído do planeamento estratégico), tornara-se numa realidade depois de ter sido testada secretamente com sucesso no Novo México. E no dia 6 de Agosto os norte-americanos fazem detonar uma bomba atómica sobre Hiroxima. É neste contexto que, dois dias depois, ainda os japoneses estão a descobrir a natureza do engenho que destruiu Hiroxima, a União Soviética declara Guerra ao Japão e invade a Manchúria. No dia seguinte, 9 de Agosto, rebenta o segundo engenho nuclear em Nagasáqui (acima)…
A nova arma alterara completamente o ritmo de destruição imposto pelos Estados Unidos ao seu inimigo. O factor do desgaste temporal, indispensável a quem no Japão apostaria numa solução negociada, perdera quase todo o seu valor e os japoneses desconheciam quantas outras bombas os Estados Unidos ainda possuiriam no seu arsenal (nenhuma) para utilização imediata…E o único canal diplomático prometedor (a União Soviética) desaparecera…
Para o Japão já não havia opções possíveis senão a rendição incondicional perante os Estados Unidos e seus aliados, enquanto a União Soviética aproveitava o compasso de espera negocial entre a declaração japonesa (a 15 de Agosto) e a formalização da cerimónia de rendição (2 de Setembro), para conquistar a ilha Sacalina meridional e o arquipélago das Curilhas, que tinham sido tradicionais territórios de disputa entre russos e japoneses. As segundas, ainda hoje o são.
Vale a pena descrever o segundo embate, que também é conhecido pelo nome dado pelos soviéticos à campanha (Operação Tempestade de Agosto), e o efeito que ele provocou entre os dirigentes japoneses enquanto eles procuravam uma solução para pôr fim à Guerra mais benigna do que a Rendição Incondicional que fora imposta aos alemães. Recorde-se que, de 1939 a 1945, existira um estado de neutralidade entre o Japão e a União Soviética, formalmente reconhecida por um Tratado de Não Agressão que fora assinado em Abril de 1941, numa daquelas situações onde os comunistas (portugueses) adoram empregar a expressão confluência de interesses.
Ambos os signatários reconheciam que possuíam potenciais inimigos mais importantes (a Alemanha no caso soviético, os Estados Unidos no japonês) e estabelecia-se um acordo tácito em colocar as divergências (que as havia, muitas, herdadas desde a Guerra que travaram em 1905) no congelador até à situação mundial evoluir. Embora essa fosse desde sempre a opção da União Soviética, havia sido necessário dar uma tareia a uma das facções japonesas mais radicais em Khalkhin Gol em 1939, para que a diplomacia nipónica pensasse da mesma forma.
Mas, nos princípios de 1945, com a derrota da Alemanha praticamente adquirida, a situação estratégica já havia evoluído de tal forma em favor da União Soviética que era esta que estava disposta a romper o Pacto e a recuperar a situação no Extremo Oriente que a Rússia perdera em 1905. Diga-se, em abono da verdade, que, contrariamente ao que mais tarde se escreveu, os Aliados (Estados Unidos e Reino Unido) encaravam com muito interesse a participação soviética na Guerra contra o Japão.
Registe-se que foi por negociação com os Aliados que os soviéticos se comprometeram na Conferência de Yalta (Fevereiro de 1945) a intervir na Guerra contra o Japão até 90 dias depois do fim da Guerra na Europa. E seria um reforço bem-vindo porque, segundo o calendário de operações que os norte-americanos haviam estabelecido para a derrota do Japão, as verdadeiras invasões do Japão estariam previstas para Novembro de 1945 (a ilha mais meridional) e Março de 1946 (a ilha principal).
Assim a 8 de Agosto de 1945, três meses escrupulosamente contados após a assinatura da rendição da Alemanha (8 de Maio de 1945), a União Soviética declarou Guerra ao Japão, numa campanha em que o maior destaque vai para a proeza logística da transferência de muitas das unidades de elite do Exército Vermelho ques estavam na Europa Central e Oriental para o Extremo Oriente e a concentração ali de milhão e meio de homens com uma superioridade material para os japoneses de 5:1 em blindados e artilharia e de 5:2 em aviação.
Entres os responsáveis japoneses, onde, em meados de 1945, muitos já se haviam resignado a iniciar o bailado diplomático em que pudessem minorar as condições da derrota, a neutralidade soviética era um activo importante a ser explorado nas aproximações aos Estados Unidos, aliado da União Soviética na Europa. A 29 de Julho, crendo estar a deixar subtilmente portas abertas, a diplomacia nipónica resolve ignorar o ultimato que lhe foi emitido pelos Aliados anglo-saxónicos por ocasião da Conferência de Potsdam (Julho de 1945). Resultado da clivagem cultural entre os beligerantes, esta ignorância deixa os norte-americanos possessos…
Só que todo este cenário sofreu uma reviravolta dramática nos princípios de Agosto de 1945. A arma atómica que, até Julho de 1945 fora apenas um projecto (e portanto excluído do planeamento estratégico), tornara-se numa realidade depois de ter sido testada secretamente com sucesso no Novo México. E no dia 6 de Agosto os norte-americanos fazem detonar uma bomba atómica sobre Hiroxima. É neste contexto que, dois dias depois, ainda os japoneses estão a descobrir a natureza do engenho que destruiu Hiroxima, a União Soviética declara Guerra ao Japão e invade a Manchúria. No dia seguinte, 9 de Agosto, rebenta o segundo engenho nuclear em Nagasáqui (acima)…
A nova arma alterara completamente o ritmo de destruição imposto pelos Estados Unidos ao seu inimigo. O factor do desgaste temporal, indispensável a quem no Japão apostaria numa solução negociada, perdera quase todo o seu valor e os japoneses desconheciam quantas outras bombas os Estados Unidos ainda possuiriam no seu arsenal (nenhuma) para utilização imediata…E o único canal diplomático prometedor (a União Soviética) desaparecera…
Para o Japão já não havia opções possíveis senão a rendição incondicional perante os Estados Unidos e seus aliados, enquanto a União Soviética aproveitava o compasso de espera negocial entre a declaração japonesa (a 15 de Agosto) e a formalização da cerimónia de rendição (2 de Setembro), para conquistar a ilha Sacalina meridional e o arquipélago das Curilhas, que tinham sido tradicionais territórios de disputa entre russos e japoneses. As segundas, ainda hoje o são.
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