06 fevereiro 2007

POUR LE MÉRITE

Numa época em que se tem falado de condecorações, sobretudo quando os critérios para a sua atribuição são malbaratados, vale a pena evocar aqui, como uma mera curiosidade, a mais prestigiada condecoração prussiana e, por extensão, da Alemanha Imperial do II Reich entre 1871 e 1918, que tinha a improvável designação francesa de Pour Le Mérite*.

A causa deste extraordinário anacronismo liga-se à de um outro, o da língua materna de Frederico II, o Grande, Rei da Prússia (1740-86) e arquétipo do despotismo esclarecido e do governante de um estado militarista moderno, que durante toda a sua vida empregou preferencialmente o idioma francês, que era, aliás, a língua usada na Corte prussiana.

Quando subiu ao trono em 1740, Frederico instituiu esta Ordem Pour Le Mérite que serviria para distinguir os melhores dos seus servidores do estado ideal que ambicionava construir. Contudo, em 1810, o seu sobrinho neto Frederico Guilherme III, transformou-a numa Ordem exclusivamente militar e que assim ficou associada à estrutura militar prussiana.

Tornou-se a condecoração atribuída em recompensa pelos feitos militares mais relevantes. Entre os condecorados durante a Primeira Guerra Mundial conta-se o subalterno (muito mais tarde o Marechal) Erwin Rommel (na fotografia de cima, ostentando a condecoração), que a recebeu e foi promovido a capitão por distinção pelo seu desempenho na frente do Tirol, contra os italianos, em 1917.

Tendo sido a Ordem abolida (na sua versão militar) com o fim da monarquia (o II Reich) em Novembro de 1918, o III Reich de Adolf Hitler (1933-45), tão cioso de ressuscitar a simbologia do seu antecessor, acabou por não a restaurar, sem dúvida por causa de ter um título tão francês e tão embaraçoso para quem tanto propagava as virtudes da cultura alemã.

De resto e quando observado de perto, Frederico II é um embaraço para quaisquer nacionalistas radicais, tanto alemães quanto franceses. No primeiro caso, porque o grande exemplo do germanismo, pensava, sonhava e praguejava em francês, no segundo, porque, a partir dos textos que escreveu, sabemos que o fazia excepcionalmente melhor do que Luís XV (1715-74), o Rei de França seu contemporâneo…

* Pelo Mérito.

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