19 fevereiro 2007

...O GRANDE ATLETA CUBANO…

É muito frequente que ex-atletas venham a experimentar tornarem-se em comentadores de televisão. Os resultados são extremamente variados, poucos os verdadeiros sucessos, e parece não haver qualquer relação entre a competência verbal e a habilidade desportiva. Os casos de Fernando Gomes (futebol) ou de Marco Chagas (ciclismo), que mostram saber articular frases consecutivas com sujeito, predicado e complemento são mesmo episódios raros. E há que perder as ilusões de uma vez por todas, porque Eusébio era mesmo um jogador fora de série.

Em meados da década de 70, o princípio, de origem norte-americana, de que, numa transmissão televisiva, o atleta consegue transmitir melhor a vivência do que está a acontecer no campo estava no seu auge e também chegou a Portugal, e aqui foi adaptado. Por adaptação lusitana entenda-se que, no original, havia um comentador profissional assessorado por um ex-atleta que realçava os aspectos técnicos do que estava a acontecer, enquanto que no nosso modelo simplesmente não há comentador profissional, e quem lá está (o ex-atleta) desembrulha-se como pode.

O clímax da época do ex-atleta-com-jeito-para-os-comentários terá sido por altura dos Jogos Olímpicos de Montreal de 1976 e ter-se-á concretizado na pessoa de José Galvão, um enorme atleta, creio que ainda lançador de peso no activo naquela data, recordista nacional da disciplina, de voz grave e ar simpático – a verdadeira figura do bom gigante. E disponível. Como verdadeiro apreciador do desporto em geral – pelo menos foi assim que recordo que a sua contribuição foi apresentada… – José Galvão até se dispôs a comentar disciplinas olímpicas tão improváveis como canoagem e remo…
Mas refira-se que nem o facto do comentador ser um ex-atleta da modalidade que comentava o podia livrar de encrencas. Alves Barbosa (acima), que era uma legenda do ciclismo português e que fora convidado para comentar as provas de ciclismo de pista daquelas olimpíadas conseguiu a proeza de trocar por quatro vezes de enfiada atletas da República Federal da Alemanha com atletas da República Democrática Alemã. E os primeiros usavam camisolas brancas, os segundos camisolas azuis escuras, até nas nossas televisões a preto e branco se percebia a diferença…
Mas nenhum dos nossos conseguiu superar um dos seus homólogos britânicos do atletismo (Ron Pickering). Maravilhando-se com a proeza do atleta cubano Alberto Juantorena naqueles Jogos Olímpicos de Montreal, quando se tornou bicampeão olímpico de atletismo nos 400 e 800 metros (proeza inédita até então, naquelas duas distâncias), foi assim que ele descreveu a fase decisiva da Final da corrida de 800 metros (em cima), onde Juantorena bateu o recorde mundial da distância: … ao chegar à recta da meta, aí vai o grande atleta cubano abrindo as suas pernas e mostrando toda a sua categoria*…

* … (Juantorena) opening his legs and showing his class… Actualmente, é um clássico dos comentários desportivos em língua inglesa.

3 comentários:

  1. Abrir as pernas continua a ser uma forma eficaz de ganhar corridas, desviar bolas para canto e (em especial) de subir na vida...

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  2. Foi também uma das minhas primeiras frustracöes desportivas, ao ver Carlos Lopes perder a primeira medalha de Ouro Olímpica de sempre para Lasse Viren (ainda tenho aquele feeling que ele estava dopado)!! ... só podia!!

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  3. Penso que já foi mais ou menos reconhecido que Viren - menos pelo próprio - estaria dopado com um método de doping (Erythrocythemia) que só veio a ser considerado doping (e a ser despistado pelas análises...) anos depois.

    A verdade é que Viren era, de base, um excelente atleta, com um elaborado plano de treinos em altitude (no Quénia) concebido para atingir o pico da forma nos Jogos Olímpicos, onde obteve 4 medalhas de ouro.

    Mas sempre é verdade que ajudas do tipo das mencionadas no inicio definem quem fica com as medalhas e de que cor é a que se recebe...

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