17 fevereiro 2007

REVISTA DE IMPRENSA

Se alguma coisa reparei se tornou característica deste blogue foi a pertinência de que nele inclua um separador como aquele que os Monty Phyton popularizaram, que, por sua vez, o haviam copiado da BBC: And now for something completely different. Hoje quero dedicar-me a alguns conteúdos da edição do Diário de Notícias deste Sábado, como numa saudação de despedida ao seu director António Teixeira, meu xará*, que agora está de saída.

Fora do assunto dominante do momento, as vicissitudes da Câmara de Lisboa, esta edição do DN contém uma evocação muito engraçada da visita que a rainha Isabel II fez a Portugal há cinquenta anos, muito bem ilustrada com fotografias do seu arquivo e com pormenores que não podiam ter sido publicados na altura, uns por serem reveladores da manobra diplomática que Portugal desenvolvia, outros por pura censura, tal era o regime daquele grande português.

Como parece já ser rotina, há títulos de notícias que, para serem mais espectaculares, só são vagamente aparentados com a verdade. Exemplo clássico disso, os artigos sobre ciência (um campo onde os conhecimentos gerais da classe não são decididamente muito fortes…) mostram uma falta de rigor arrepiante: Vida em Marte cada vez mais provável é o título grandioso de um artigo cujo conteúdo desaponta muito: vai-se à procura de vida e - como no jogo da batalha naval - encontra-se… água.

Está já tão estabelecido titular operações de Bolsa recorrendo ao antropomorfismo** do mercado que agora isso já se faz sem se perceber o conceito subjacente à figura utilizada: Mercado acredita na OPA mas analistas desconfiam. O tal de mercado não é um conceito de uma personalidade abrangente que inclui todos os envolvidos, incluindo os analistas? Ou os analistas afinal não fazem parte do mercado? Ou, mais provavelmente, o autor do título em questão não faz a mínima ideia do que é o mercado?...

Será uma medida da independência com que se fazem os julgamentos políticos em Portugal, o grau de dificuldade que Luís Amado virá a atravessar num futuro próximo em consequência da má forma evidente como conduziu todo o processo do Inquérito Sobre os Voos da CIA promovido pelo Parlamento Europeu. Actualmente as suas declarações já se situam num compulsório “A minha obrigação é pôr as mãos no fogo” conforme o título do artigo que relata as suas declarações de ontem no Parlamento nacional.

Entre outros gestos, não era obrigação de Amado ter tratado os eurodeputados com a condescendência inicial com que o fez, nem fazer processos de intenções em relação ao móbil do voluntarismo da sua camarada Ana Gomes. Agora, saído o relatório do Parlamento Europeu, Luís Amado como que muda habilidosamente ainda um pouco mais a agulha do seu discurso, que já foi feito de desmentidos, a início, até frases progressivamente cada vez mais cuidadas na sua redacção, admitindo sempre o que já fora descoberto até então.

Fosse o nome Manuel Pinho, e o ministro a quem tivesse saído esta fava de se ter enganado redondamente na sua aposta de lidar com um problema político notório e ele estaria nas manchetes de todos os jornais e na abertura de todos os noticiários pela negativa. E o problema não é de ministério porque se o nome fosse Diogo Freitas do Amaral apostaria que aconteceria rigorosamente a mesma coisa. Agora com Luís Amado... Cada vez suspeito mais que entre nós não haja uma análise objectiva dos resultados das políticas ministeriais:
Há uns ministros que são porreiros e outros que não… uns gajos, que não se acusam, que decidem quais são uns e outros... e nós, a maralha, que somos apascentados nas nossas indignações em função da informação que nos é disponibilizada... E, felizmente, a blogosfera, que torna o controlo de tudo isso num processo muito mais difícil. Neste caso, pela negativa, porque, pelos vistos, ninguém se quer indignar com Luís Amado...
* Palavra de origem tupi: «Pessoa que tem o mesmo nome de baptismo que outra; o mesmo que homónimo.»
** Tendência a atribuir à divindade feições, sentimentos, actos e paixões do homem.

3 comentários:

  1. Ó A.Teixeira, você não será um pouco burro? Não percebe que água em Marte é vida (como na Terra, na Lua ou em qualquer lado)? Ou acha que dizer que há vida em Marte implica, necessariamente, marcianos?

    ResponderEliminar
  2. A presença de água implica apenas a presença de moléculas de uma substância que é descrita na química com a simbologia H2O (agá dois ó). Ora que se saiba, da química orgânica, as moléculas de água não tem capacidade para reproduzirem cópias de si mesmas, um dos meios que actualmente serve como referência para a definição da existência de vida. Uma outra coisa, é a existência de um meio favorável ao aparecimento de células que consigam reproduzir cópias de si mesma. Devido ao princípio da mediocridade (só conhecemos o exemplo do nosso planeta) supõe-se que a existência de água é um indício favorável ao aparecimento de tais moléculas complexas e apenas isso.

    Ora a existência de uma coisa (água) não implica outra (vida). Metaforicamente, para melhor compreensão, podemos demonstrar isso num exemplo semelhante, em que a existência de um cérebro não implica necessariamente a existência de inteligência, como se comprova no caso genérico de uma galinha ou no concreto do anónimo autor do comentário anterior.

    ResponderEliminar
  3. Será que o “anónimo” das 20h00 ainda é do tempo em que a Maria Pereira cantava: “A cor é vida!”. Ficava justificado se, em Marte, existisse água-pé, água-de-rosas, ou outra qualquer espécie de água... não incolor!

    ResponderEliminar