23 fevereiro 2007

¡¡¡AL SUELLO!!!

Só as multinacionais, com a superficialidade de quem tudo pretende perceber a partir da visão de relance de um mapa da península é que querem crer que unificando as suas estruturas em direcções ibéricas tornam as suas organizações mais eficazes… Tornam-nas mais baratas, isso sim! Agora, quanto a eficácia… vou ali e já venho, enquanto pode passar o comercial de televisão de promoção do Toyota Yaris, associado à tomatina (em baixo), essa festa de tanto significado para os portugueses…
Regressando atrás, as duas ditaduras ibéricas, entre o muito que tinham em comum, havia outro tanto que as distinguia. Os militares portugueses haviam obtido o Poder por meio de um discreto pronunciamento militar (1926), enquanto os militares espanhóis se sentiam com um Direito de posse natural sobre esse Poder, depois de o ganharem no fim de uma prolongada guerra civil (1936-39). O regime português tinha uma figura militar à sua frente (Carmona), mas quem mandava era um civil (Salazar), mas em Espanha essas duas funções estavam reunidas num militar (Franco).

Os dois regimes começaram a divergir a partir dos anos sessenta, quando o problema colonial português levou o seu governo a adoptar decisões específicas, mas o grande ponto de viragem em que os dois países deixam de funcionar concertadamente foi, indiscutivelmente, a partir de 25 de Abril de 1974. A primeira prioridade do 25 de Abril em Portugal foi a de resolver um problema que a Espanha não tinha (ou, pelo menos, não o tinha à dimensão portuguesa*): o problema colonial.

Mas o problema que apoquentava os sectores mais atentos da direita espanhola era outro: a agitação social portuguesa que culminaria no PREC. Num depoimento de uma interessante série documental da TVE, intitulada La Transición Española (A Transição Espanhola), aquele que era em 74 o Ministro da Informação espanhol, Pío Cabanillas, conotado com a ala liberal do regime, conta a história de uma sessão de cinema privada em que os membros do governo foram confrontados com filmes sobre a agitação social em Lisboa, enquanto os elementos mais ultras do governo comentavam, como que casualmente, como tudo aquilo se resolveria com uma companhia da guardia civil…

É esta descrição de quem literal e simbolicamente não estava a ver bem o filme que me marcou como um dos melhores exemplos de uma atitude que apenas a boa direita tradicional conservadora espanhola guardava e ainda guarda entre os países da Europa ocidental. Pelos acasos da história, ao contrário do que aconteceu nos seus países vizinhos – a França com o fim do regime Vichy (1944), a Itália com o fim do Fascismo (1945), Portugal com o 25 de Abril (1974) - nunca a direita espanhola passou pela humilhação, em tempos históricos, de ser varrida ostensivamente dos centros do Poder.

A transição do regime espanhol, feita da forma suave com que Adolfo Suárez a conduziu (e que tantas invejas desperta em Paulo Portas…), para além das indiscutíveis vantagens sociais, foi como um gesto de retirar os velhinhos ultras da geração de Franco das cadeiras do Poder, amparando-os para lugares de repouso. Mas esse gesto cortês e respeitador teve também custos políticos porque acabou por ser interpretado pelos extremistas mais obtusos como uma concessão que o franquismo fazia ao novo regime. E só isso pode explicar arrogarem-se o direito de interferência e o descaramento do que veio a acontecer em 23 de Fevereiro de 1981.

Há 26 anos um tenente-coronel entrou fardado e armado no Congresso de Deputados enquanto decorria uma sessão da Câmara e pôs-se a disparar tiros e a dar ordens... É o tipo de gesto a que só um certo tipo de extremismo de direita se atreve. O tempo passa mas, ao escutar frases actuais dos discursos de Mariano Rajoy, dirigente do PP, que parecem especialmente dirigidas aqueles que ainda hoje parecem defender o gesto de Tejero Molina, relembra-me que, ainda hoje, a democracia espanhola é uma democracia ligeiramente diferente das outras, porque deve ter a direita mais arcaica do continente...
* A Espanha ainda era a potência administrante do Sáara Ocidental.

6 comentários:

  1. Excelente post! A sociedade espanhola, talvez por não ter havido uma verdadeira rotura e sim uma transição, ainda tem muitos resquícios de direita ortodoxa e ditatorial, assim como uma reverência à Igreja Católica que fazia com que, até há bem pouco tempo, os membros do governo, na cerimónia de posse, prestassem juramento ajoelhados e de mão sobre a Bíblia!

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  2. Não me parece que essa reverência À Igreja seja assim tão conteundente, olhando para as políticas de Zapatero.
    De qualquer forma, há que recordar quea declaraçãodo Rei juan Carlos é que acabou com este golpe de estado tentado por esse ridículo oficial. Os seus apoiantes protestaram a sua prisão, mas se uma coisa destas se tivesse passado no tempo de Franco, o mais provável é que não tivessem sobrevivido.

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  3. El Partido Popular Español es un Partido Centrista y Moderado, con dirigentes jóvenes y modernos, de gran formación jurídica, como don Eduardo Zaplana, don Angel Acebes y don José María Michavila

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  4. Los conductores de automóviles que conducen de forma atolondrada e imprudente odian a la Benemérita, porque evita que en las carreteras españolas rija la ley de la jungla........

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  5. É correcto, João Pedro, que a Igreja espanhola parece não querer interferir visivelmente na acção política, mas, se bem entendi o que a Sofia pretendeu descrever, também tenho a opinião que em Espanha há uma mistura entre o sagrado e o profano que nos parece bem estranha, como é o caso de terminar uma procissão religiosa ao som do hino nacional tocado pela banda (presenciei-o numa vila da província de Badajoz).

    E o episódio que recorda, em que os golpistas promovem um golpe de estado em nome e prol de alguém que veio à televisão anunciar que condena as suas acções também não abona nada em favor deles…

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  6. Não contesto directamente o que escreve o anónimo das 5H28. Sendo um partido que ocupa praticamente toda a direita política espanhola, com excepção das direitas nacionalistas como a CiU (catalã) ou o PNV (basco), o Partido Popular (PP) deve contar nos seus quadros e simpatizantes com membros de um amplo leque ideológico, desde os moderados que mencionou até aos radicais saudosistas que vão para a Praça do Oriente cantar o “Cara al Sol”.

    Durante as eleições – que se ganham ao centro – convirá ao PP acentuar o seu carácter moderno e moderado. Fora do período das eleições, e cada vez que se trata de um assunto delicado como, por exemplo, as nacionalidades, ouve-se sempre quem esteja a dirigir o PP (foi Aznar, agora é Rajoy) empregando um discurso rígido centrista castelhano que, talvez console a maioria do seu eleitorado fixo conservador, mas eu não chamaria de moderno, jovem ou moderado…

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