No final da década de 30, a França e os Estados Unidos como que tinham feito uma troca de Embaixadores nos seus, de outra forma, sistemas autónomos e estanques de Music-Hall. Josephine Baker era a vedeta norte-americana em França (provavelmente a vedeta que não poderia ser nos Estados Unidos, por ter ascendência negra) e Maurice Chevalier era a vedeta francesa, com o seu famoso chapéu de palha, que recolhia imensa popularidade do outro lado do Atlântico.
Ao aproximar-se o final da Segunda Guerra Mundial, com a libertação da França e de Paris, essa popularidade transatlântica de Chevalier tornou-se um problema ao saber-se que, como acontecera com quase todos os artistas franceses durante o período da Ocupação (1940-44), ele trabalhara com as autoridades alemãs. Entre os franceses, que conheceram o problema por dentro, era mais simples fazer a distinção entre os artistas que foram colaboradores dos alemães e quem fizera pela vida.
Agora entre os admiradores norte-americanos do cantor, mais afastados e por isso mais obtusos às subtilezas dos comportamentos que houvera que assumir perante os alemães, a fama de colaboracionista que Maurice Chevalier adquirira estava a arrasar-lhe a reputação. Terá sido para impedir que isso piorasse, que foi produzido um pequeno documentário, creio que para ser difundido junto dos soldados, que, sobrevivido ao período da guerra, volta e meia reaparece na televisão.
Nele, aparece com o seu “palhinhas” de marca e ar tradicionalmente bem disposto e, virando-se para a câmara, naquele inglês cujo sotaque só os franceses guardam para si, diz qualquer coisa como: - Corre para aí que eu fui colaboracionista com os alemães… Quero dizer-vos que isso é mentira e quero também dedicar-vos esta minha canção (e começa a cantar) Lá lá rá lá lá… Confesso que não tenho a empatia suficiente para me colocar na posição de um GI* da Segunda Guerra, mas parece-me que era uma explicação muito escassa e demasiado evasiva… mesmo para um GI.
Mas foi precisamente dessa explicação que me lembrei quando, há uma semana atrás, Maria Flor Pedroso na RTP se fez porta-voz dos que se lembraram que a pergunta do referendo que Marcelo Rebelo de Sousa tanto criticava no Youtube era precisamente igual à que ele acordara com Guterres em 1998… É verdade que faltava lá o palhinhas e que o sotaque do português de Marcelo é impecável, mas a leveza en passant com que Marcelo respondeu que não era bem verdade, que na altura contestara alguns aspectos da pergunta** e que Lá lá rá lá lá (um qualquer outro assunto diferente) era verdadeiramente digna da usada na resposta de Maurice Chevalier…
*GI ou General Infantryman, termo usado para referir o soldado norte-americano durante a Segunda Guerra Mundial.
** Mas aceitara a sua formulação, resultado das negociações entre PS e PSD. Se ela era mentirosa, já o fora em 1998.
Ao aproximar-se o final da Segunda Guerra Mundial, com a libertação da França e de Paris, essa popularidade transatlântica de Chevalier tornou-se um problema ao saber-se que, como acontecera com quase todos os artistas franceses durante o período da Ocupação (1940-44), ele trabalhara com as autoridades alemãs. Entre os franceses, que conheceram o problema por dentro, era mais simples fazer a distinção entre os artistas que foram colaboradores dos alemães e quem fizera pela vida.
Agora entre os admiradores norte-americanos do cantor, mais afastados e por isso mais obtusos às subtilezas dos comportamentos que houvera que assumir perante os alemães, a fama de colaboracionista que Maurice Chevalier adquirira estava a arrasar-lhe a reputação. Terá sido para impedir que isso piorasse, que foi produzido um pequeno documentário, creio que para ser difundido junto dos soldados, que, sobrevivido ao período da guerra, volta e meia reaparece na televisão.
Nele, aparece com o seu “palhinhas” de marca e ar tradicionalmente bem disposto e, virando-se para a câmara, naquele inglês cujo sotaque só os franceses guardam para si, diz qualquer coisa como: - Corre para aí que eu fui colaboracionista com os alemães… Quero dizer-vos que isso é mentira e quero também dedicar-vos esta minha canção (e começa a cantar) Lá lá rá lá lá… Confesso que não tenho a empatia suficiente para me colocar na posição de um GI* da Segunda Guerra, mas parece-me que era uma explicação muito escassa e demasiado evasiva… mesmo para um GI.
Mas foi precisamente dessa explicação que me lembrei quando, há uma semana atrás, Maria Flor Pedroso na RTP se fez porta-voz dos que se lembraram que a pergunta do referendo que Marcelo Rebelo de Sousa tanto criticava no Youtube era precisamente igual à que ele acordara com Guterres em 1998… É verdade que faltava lá o palhinhas e que o sotaque do português de Marcelo é impecável, mas a leveza en passant com que Marcelo respondeu que não era bem verdade, que na altura contestara alguns aspectos da pergunta** e que Lá lá rá lá lá (um qualquer outro assunto diferente) era verdadeiramente digna da usada na resposta de Maurice Chevalier…
*GI ou General Infantryman, termo usado para referir o soldado norte-americano durante a Segunda Guerra Mundial.
** Mas aceitara a sua formulação, resultado das negociações entre PS e PSD. Se ela era mentirosa, já o fora em 1998.
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