02 fevereiro 2007

O DISCURSO DAS CANADIANAS

Lembrar-se-ão talvez de um episódio, há coisa de um ano, em plena noite eleitoral das presidenciais, quando o primeiro-ministro José Sócrates escolheu começar a falar fragorosamente em cima do discurso do candidato (e camarada) Manuel Alegre, que tinha ficado em segundo lugar na disputa, batendo, também fragorosamente, o candidato do partido socialista, (o também camarada) Mário Soares.

Nada me convence que o gesto não passou de sacanice descarada, mas no gabinete do primeiro-ministro achou-se por bem amenizar a má imagem que o gesto trazia (não é conveniente que os portugueses considerem o seu primeiro-ministro como um f**** da p*** vingativo…) e inventou-se a história que as canadianas que Sócrates usava o tinham atrasado e que, só por isso, ele entrara a destempo.

Aqui há muitos anos, na minha juventude, houve um modismo entre a malta, que terá durado para aí um par de anos, se tanto, onde se empregava a expressão Alfredo, traz o bote! para desmascarar alguém que estava a contar uma grossa mentira num círculo de amigos. É que, metendo a história tanta água, tornava-se necessário um bote para salvar a audiência de se afogar

A piada tinha variações, algumas delas mímicas. Havia quem arregaçasse as calças (pretendendo que as queria manter secas) ou havia quem simulasse que remava, com os dois punhos fechados diante de si, ritmadamente, a minha opção favorita, que muitas vezes empreguei quando suspeitava que o narrador estava a abusar da imaginação na história que nos estava a contar.

Esta tarde, todas estas evocações confluíram enquanto escutava o primeiro-ministro – em declarações descaradamente preparadas para a imprensa – a justificar a gaffe do seu ministro da economia na China; desde a fase de meter água, à necessidade do bote, ao gesto de remar, ao som rítmico (tchoc, tchoc, tchoc) das canadianas, até à minha conclusão final: num mundo juvenil, mas honesto, José Sócrates merecia que os jornalistas, enquanto escutavam aquelas declarações, arregaçassem as calças…
Adenda: E, pelos vistos, mesmo sem terem arregaçado as calças, o primeiro-ministro não está contente com os jornalistas. Parece ser tudo um problema de acreditar nas canadianas, tchoc, tchoc, tchoc...

2 comentários:

  1. Ora aqui está um bom exemplo de como se pode perder uma boa oportunidade... para estar calado!!!

    ResponderEliminar
  2. Neste preciso caso, o Sr.PM decidiu fazer ski aquatico, e deslizar suavemente puxado pelo bote do "Alfredo" !! Coisas que não mudam.

    ResponderEliminar