
O Império Otomano, na sua sabedoria experimental de séculos, possuía aquilo que hoje designaríamos por uma estrutura matricial onde a organização administrativa territorial clássica (a vilayet ou província) se cruzavam com a organização religiosa, onde os fiéis estavam divididos pelo seu millet (ou comunidade religiosa), conforme a religião que professavam, reportando ao chefe da comunidade.
O Rûm Millet, dos católicos ortodoxos, que ia buscar a origem da sua designação ao venerando Império Romano do Oriente, reportando ao Patriarca de Constantinopla que por ele era responsável perante o Sultão, era o segundo mais numeroso do Império e os seus membros encontravam-se espalhados por todo ele, especialmente nas concentrações urbanas.
O Romantismo dos inícios do Século XIX que está, de alguma forma, associado à independência grega teve que adaptar a crua realidade política da necessidade da criação de um território nacional para a pátria grega com as circunstâncias da dispersão da comunidade grega por todo o território otomano. A Grécia original era uma fracção da actual (ver abaixo) e a maioria dos ortodoxos continuaram súbditos do Sultão.

Dois dos casos curiosos que se puseram, na disputa quê se travava entre uma Grécia ortodoxa e uma Turquia muçulmana, foi o de que fazer a populações turcas mas de confissão cristã e, sobretudo, a populações de cultura grega mas de religião muçulmana que eram numericamente muito significativas em regiões como a ilha de Creta*. Por razões convenientes às duas partes escolheu-se o critério religioso**.
O problema das minorias étnicas entre gregos e turcos era de tal forma imbricado que ambos decidiram cortar o nó górdio*** do problema, transferindo em 1923 quase dois milhões de pessoas de um lado para o outro do Mar Egeu: 400 mil muçulmanos da Europa para a Ásia Menor e 1 milhão e 400 mil ortodoxos no sentido inverso. Duas minorias de 100 mil pessoa ficaram, como que reféns, dos lados errados da fronteira.

No final do processo ficara contudo claro que era materialmente possível erradicar o problema das minorias que tanto atrito estava a causar entre aqueles países cujas fronteiras haviam saído dos Tratados de 1919. No final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, chegou a existir um colossal problema de refugiados, mas não houve qualquer problema de minorias étnicas na Europa até ao fim da Guerra-Fria em 1990…

Um comentário final para a diáspora grega. Noutro país, seria uma curiosidade que o líder da oposição (Georgios Papandreou), tivesse nascido nos Estados Unidos, a sua mãe fosse norte-americana de origem e que a sua avó paterna fosse de origem polaca. Na Grécia isso acontece com uma frequência anormal: entre os seus cantores conhecidos, por exemplo, Demis Roussos e Georges Moustaki nasceram ambos no Egipto e Maria Callas nos Estados Unidos…
* No último recenseamento feito em Creta sob domínio otomano (1881), havia uma proporção de 3 cristãos para cada muçulmano (75% - 25%). A minoria muçulmana tinha oficialmente desaparecido dos recenseamentos gregos 50 anos depois…
** Usando o critério religioso em vez do cultural, os gregos podiam ter ambições em relação a territórios habitados por eslavos, também ortodoxos, e aos turcos não se punham os problemas de identidades culturais distintas dentro da própria Turquia, como a dos curdos.
*** Uma história tradicional da cultura grega acontecido em terras que pertencem hoje à Turquia.
* No último recenseamento feito em Creta sob domínio otomano (1881), havia uma proporção de 3 cristãos para cada muçulmano (75% - 25%). A minoria muçulmana tinha oficialmente desaparecido dos recenseamentos gregos 50 anos depois…
** Usando o critério religioso em vez do cultural, os gregos podiam ter ambições em relação a territórios habitados por eslavos, também ortodoxos, e aos turcos não se punham os problemas de identidades culturais distintas dentro da própria Turquia, como a dos curdos.
*** Uma história tradicional da cultura grega acontecido em terras que pertencem hoje à Turquia.
Parece-me que o problema não é só dos gregos, mas de insularidade.
ResponderEliminarViver num espaço limitado não é fácil. Que o digam os milhares de madeirenses e de açoreanos que têm, como único horizonte, a emigração.
Se um dia voltassem todos às origens... desapareciam dois arquipélagos, porque nenhuma ilha tem paciência para suportar tanta gente!!!