Como em todas as fotografias puras, a fotografia de cima, tirada do espaço e centrada no Mar Egeu, não nos distingue em cores a Grécia da Turquia e como que torna incompreensível, para quem não lhes conheça a história e os antecedentes, quais as razões para a rivalidade ancestral que separa os dois países.
O Império Otomano, na sua sabedoria experimental de séculos, possuía aquilo que hoje designaríamos por uma estrutura matricial onde a organização administrativa territorial clássica (a vilayet ou província) se cruzavam com a organização religiosa, onde os fiéis estavam divididos pelo seu millet (ou comunidade religiosa), conforme a religião que professavam, reportando ao chefe da comunidade.
O Rûm Millet, dos católicos ortodoxos, que ia buscar a origem da sua designação ao venerando Império Romano do Oriente, reportando ao Patriarca de Constantinopla que por ele era responsável perante o Sultão, era o segundo mais numeroso do Império e os seus membros encontravam-se espalhados por todo ele, especialmente nas concentrações urbanas.
O Romantismo dos inícios do Século XIX que está, de alguma forma, associado à independência grega teve que adaptar a crua realidade política da necessidade da criação de um território nacional para a pátria grega com as circunstâncias da dispersão da comunidade grega por todo o território otomano. A Grécia original era uma fracção da actual (ver abaixo) e a maioria dos ortodoxos continuaram súbditos do Sultão.
Contudo, ao longo de todo o Século XIX, o enfraquecimento progressivo do Império Otomano e o apoio encapotado e explícito à Grécia fê-la recuperar progressivamente (pela via militar ou diplomática) cada vez mais territórios onde predominavam os gregos, embora a natural mistura de populações tradicional dos Balcãs fizesse com que a Grécia começasse a contar com minorias não gregas nos seus novos territórios.
Dois dos casos curiosos que se puseram, na disputa quê se travava entre uma Grécia ortodoxa e uma Turquia muçulmana, foi o de que fazer a populações turcas mas de confissão cristã e, sobretudo, a populações de cultura grega mas de religião muçulmana que eram numericamente muito significativas em regiões como a ilha de Creta*. Por razões convenientes às duas partes escolheu-se o critério religioso**.
O problema das minorias étnicas entre gregos e turcos era de tal forma imbricado que ambos decidiram cortar o nó górdio*** do problema, transferindo em 1923 quase dois milhões de pessoas de um lado para o outro do Mar Egeu: 400 mil muçulmanos da Europa para a Ásia Menor e 1 milhão e 400 mil ortodoxos no sentido inverso. Duas minorias de 100 mil pessoa ficaram, como que reféns, dos lados errados da fronteira.
Em Istambul, uma minoria ortodoxa, predominantemente urbana, e na Trácia Ocidental, uma minoria muçulmana, predominantemente rural. As vicissitudes posteriores fizeram com que a primeira comunidade – de onde é obrigatoriamente recrutado o Patriarca de Constantinopla - tenha praticamente desaparecido, enquanto a segunda se mantém, pujante. Só que escapara a este acordo global a ilha de Chipre que era na altura colónia britânica...
No final do processo ficara contudo claro que era materialmente possível erradicar o problema das minorias que tanto atrito estava a causar entre aqueles países cujas fronteiras haviam saído dos Tratados de 1919. No final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, chegou a existir um colossal problema de refugiados, mas não houve qualquer problema de minorias étnicas na Europa até ao fim da Guerra-Fria em 1990…
O Império Otomano, na sua sabedoria experimental de séculos, possuía aquilo que hoje designaríamos por uma estrutura matricial onde a organização administrativa territorial clássica (a vilayet ou província) se cruzavam com a organização religiosa, onde os fiéis estavam divididos pelo seu millet (ou comunidade religiosa), conforme a religião que professavam, reportando ao chefe da comunidade.
O Rûm Millet, dos católicos ortodoxos, que ia buscar a origem da sua designação ao venerando Império Romano do Oriente, reportando ao Patriarca de Constantinopla que por ele era responsável perante o Sultão, era o segundo mais numeroso do Império e os seus membros encontravam-se espalhados por todo ele, especialmente nas concentrações urbanas.
O Romantismo dos inícios do Século XIX que está, de alguma forma, associado à independência grega teve que adaptar a crua realidade política da necessidade da criação de um território nacional para a pátria grega com as circunstâncias da dispersão da comunidade grega por todo o território otomano. A Grécia original era uma fracção da actual (ver abaixo) e a maioria dos ortodoxos continuaram súbditos do Sultão.
Contudo, ao longo de todo o Século XIX, o enfraquecimento progressivo do Império Otomano e o apoio encapotado e explícito à Grécia fê-la recuperar progressivamente (pela via militar ou diplomática) cada vez mais territórios onde predominavam os gregos, embora a natural mistura de populações tradicional dos Balcãs fizesse com que a Grécia começasse a contar com minorias não gregas nos seus novos territórios.
Dois dos casos curiosos que se puseram, na disputa quê se travava entre uma Grécia ortodoxa e uma Turquia muçulmana, foi o de que fazer a populações turcas mas de confissão cristã e, sobretudo, a populações de cultura grega mas de religião muçulmana que eram numericamente muito significativas em regiões como a ilha de Creta*. Por razões convenientes às duas partes escolheu-se o critério religioso**.
O problema das minorias étnicas entre gregos e turcos era de tal forma imbricado que ambos decidiram cortar o nó górdio*** do problema, transferindo em 1923 quase dois milhões de pessoas de um lado para o outro do Mar Egeu: 400 mil muçulmanos da Europa para a Ásia Menor e 1 milhão e 400 mil ortodoxos no sentido inverso. Duas minorias de 100 mil pessoa ficaram, como que reféns, dos lados errados da fronteira.
Em Istambul, uma minoria ortodoxa, predominantemente urbana, e na Trácia Ocidental, uma minoria muçulmana, predominantemente rural. As vicissitudes posteriores fizeram com que a primeira comunidade – de onde é obrigatoriamente recrutado o Patriarca de Constantinopla - tenha praticamente desaparecido, enquanto a segunda se mantém, pujante. Só que escapara a este acordo global a ilha de Chipre que era na altura colónia britânica...
No final do processo ficara contudo claro que era materialmente possível erradicar o problema das minorias que tanto atrito estava a causar entre aqueles países cujas fronteiras haviam saído dos Tratados de 1919. No final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, chegou a existir um colossal problema de refugiados, mas não houve qualquer problema de minorias étnicas na Europa até ao fim da Guerra-Fria em 1990…
Um comentário final para a diáspora grega. Noutro país, seria uma curiosidade que o líder da oposição (Georgios Papandreou), tivesse nascido nos Estados Unidos, a sua mãe fosse norte-americana de origem e que a sua avó paterna fosse de origem polaca. Na Grécia isso acontece com uma frequência anormal: entre os seus cantores conhecidos, por exemplo, Demis Roussos e Georges Moustaki nasceram ambos no Egipto e Maria Callas nos Estados Unidos…
* No último recenseamento feito em Creta sob domínio otomano (1881), havia uma proporção de 3 cristãos para cada muçulmano (75% - 25%). A minoria muçulmana tinha oficialmente desaparecido dos recenseamentos gregos 50 anos depois…
** Usando o critério religioso em vez do cultural, os gregos podiam ter ambições em relação a territórios habitados por eslavos, também ortodoxos, e aos turcos não se punham os problemas de identidades culturais distintas dentro da própria Turquia, como a dos curdos.
*** Uma história tradicional da cultura grega acontecido em terras que pertencem hoje à Turquia.
* No último recenseamento feito em Creta sob domínio otomano (1881), havia uma proporção de 3 cristãos para cada muçulmano (75% - 25%). A minoria muçulmana tinha oficialmente desaparecido dos recenseamentos gregos 50 anos depois…
** Usando o critério religioso em vez do cultural, os gregos podiam ter ambições em relação a territórios habitados por eslavos, também ortodoxos, e aos turcos não se punham os problemas de identidades culturais distintas dentro da própria Turquia, como a dos curdos.
*** Uma história tradicional da cultura grega acontecido em terras que pertencem hoje à Turquia.
Parece-me que o problema não é só dos gregos, mas de insularidade.
ResponderEliminarViver num espaço limitado não é fácil. Que o digam os milhares de madeirenses e de açoreanos que têm, como único horizonte, a emigração.
Se um dia voltassem todos às origens... desapareciam dois arquipélagos, porque nenhuma ilha tem paciência para suportar tanta gente!!!