Há diversos aspectos interessantes a destacar na notícia publicada pelo The Australian em que nos informa que australianos e japoneses estão a negociar um acordo bilateral sobre segurança e defesa. Depois do fim da Segunda Guerra Mundial os Estados Unidos promoveram a criação da SEATO, uma espécie de NATO agrupando os países seus aliados na Ásia e Extremo Oriente, mas era uma organização muito frágil e que só existiu durou entre 1954 e 1977.
Na prática, os Estados Unidos assumiram um papel central em que funcionavam como uma espécie de distribuidor de jogo, a partir das suas alianças bilaterais com os países da região: com a Austrália e a Nova Zelândia (numa organização denominada ANZUS - 1952), com o Japão (com base no Tratado de Paz de S. Francisco – 1951 – e no de Cooperação Mútua e Segurança - 1960), com as Filipinas (Tratado de Defesa Mútua – 1951) ou com a Coreia do Sul (Tratado de Defesa Mútua -1954).
Historicamente, o Japão, o maior parceiro dos norte-americanos, carregava o ónus de despertar a animosidade dos outros aliados, por ter anexado a Coreia (1910-45), ocupado as Filipinas (1942-45) e ter atacado a Austrália (1942). Durante a Guerra-Fria, a presença tutelar norte-americana sempre se fez sentir nas relações que os países daquela região tinham com os seus aliados. Exemplo que nos é próximo, vemo-lo na anuência que a Indonésia obteve de Washington em 1975, antes de invadir Timor-Leste.
Esta nova parceria que agora se anuncia, não deve ter sido desencadeada ao arrepio dos interesses norte-americanos, bem pelo contrário. Com a carga pesada dos envolvimentos dos Estados Unidos nos diversos locais do Mundo (a começar pelo Iraque e pelo Afeganistão), a sua reacção deve ser de incentivo a todas as medidas que sejam conducentes à assumpção de maiores responsabilidades por parte dos seus aliados. Mas se soluções idênticas não foram implementadas mais cedo deverá ter sido por não serem nada fáceis.
Pelo seu comportamento arrogante, o Japão não deixou quaisquer saudades em qualquer dos países asiáticos por onde passou na sua fase imperialista. É um calcanhar de Aquiles político dos nipónicos que ainda recentemente a China aproveitou para evocar – o genocídio de que os japoneses foram responsáveis durante a invasão da China, nos anos 30 e 40 – e fizeram-no com todo o aspecto que pode vir a ser usado novamente no futuro como forma de coação, conforme as conveniências chinesas.
Mesmo na notícia referenciada, note-se como ela explora esses receios ao usar um título (Pacto de Defesa colocará tropas japonesas em solo australiano) que evoca directamente os temores australianos de 1942, o de uma invasão japonesa à Austrália que afinal nunca se veio a verificar… Mas, o aspecto que mais reservas suscitará neste Pacto Nipo-Australiano é o do tradicional abismo cultural entre japoneses e ocidentais, que tantas vezes foi representado no passado, como acontece com o filme Merry Christmas Mr Lawrence (1983), cuja capa ilustra este poste.
Independentemente da narrativa principal (uma história de um amor homossexual impossível num campo de prisioneiros aliados durante a Segunda Guerra Mundial), o que mais me marcou nele é a forma como termina, com a expressão infantil e sorridente do Sargento Hara, que havia sido um algoz no campo e que era agora condenado à morte por isso, que aceitava disciplinadamente o seu destino, mas que, depois de dizer uma piada despropositada e com um sorriso desconcertante, sob os acordes iniciais da música de Ryuichi Sakamoto, demonstrava como lhe escapavam de todo as razões dos que o condenavam…
Na prática, os Estados Unidos assumiram um papel central em que funcionavam como uma espécie de distribuidor de jogo, a partir das suas alianças bilaterais com os países da região: com a Austrália e a Nova Zelândia (numa organização denominada ANZUS - 1952), com o Japão (com base no Tratado de Paz de S. Francisco – 1951 – e no de Cooperação Mútua e Segurança - 1960), com as Filipinas (Tratado de Defesa Mútua – 1951) ou com a Coreia do Sul (Tratado de Defesa Mútua -1954).
Historicamente, o Japão, o maior parceiro dos norte-americanos, carregava o ónus de despertar a animosidade dos outros aliados, por ter anexado a Coreia (1910-45), ocupado as Filipinas (1942-45) e ter atacado a Austrália (1942). Durante a Guerra-Fria, a presença tutelar norte-americana sempre se fez sentir nas relações que os países daquela região tinham com os seus aliados. Exemplo que nos é próximo, vemo-lo na anuência que a Indonésia obteve de Washington em 1975, antes de invadir Timor-Leste.
Esta nova parceria que agora se anuncia, não deve ter sido desencadeada ao arrepio dos interesses norte-americanos, bem pelo contrário. Com a carga pesada dos envolvimentos dos Estados Unidos nos diversos locais do Mundo (a começar pelo Iraque e pelo Afeganistão), a sua reacção deve ser de incentivo a todas as medidas que sejam conducentes à assumpção de maiores responsabilidades por parte dos seus aliados. Mas se soluções idênticas não foram implementadas mais cedo deverá ter sido por não serem nada fáceis.
Pelo seu comportamento arrogante, o Japão não deixou quaisquer saudades em qualquer dos países asiáticos por onde passou na sua fase imperialista. É um calcanhar de Aquiles político dos nipónicos que ainda recentemente a China aproveitou para evocar – o genocídio de que os japoneses foram responsáveis durante a invasão da China, nos anos 30 e 40 – e fizeram-no com todo o aspecto que pode vir a ser usado novamente no futuro como forma de coação, conforme as conveniências chinesas.
Mesmo na notícia referenciada, note-se como ela explora esses receios ao usar um título (Pacto de Defesa colocará tropas japonesas em solo australiano) que evoca directamente os temores australianos de 1942, o de uma invasão japonesa à Austrália que afinal nunca se veio a verificar… Mas, o aspecto que mais reservas suscitará neste Pacto Nipo-Australiano é o do tradicional abismo cultural entre japoneses e ocidentais, que tantas vezes foi representado no passado, como acontece com o filme Merry Christmas Mr Lawrence (1983), cuja capa ilustra este poste.
Independentemente da narrativa principal (uma história de um amor homossexual impossível num campo de prisioneiros aliados durante a Segunda Guerra Mundial), o que mais me marcou nele é a forma como termina, com a expressão infantil e sorridente do Sargento Hara, que havia sido um algoz no campo e que era agora condenado à morte por isso, que aceitava disciplinadamente o seu destino, mas que, depois de dizer uma piada despropositada e com um sorriso desconcertante, sob os acordes iniciais da música de Ryuichi Sakamoto, demonstrava como lhe escapavam de todo as razões dos que o condenavam…
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