A propósito da diferença entre informação e entretenimento lembrei-me dum episódio em que, numa apresentação de uma tese, o júri massacrou seriamente o proponente por ele ter incluído na bibliografia um dos livros de José Hermano Saraiva. Ali estava-se a tratar dos aspectos científicos da História, dizia-se, as coisas sobre as quais José Hermano Saraiva escrevia e falava eram de um departamento aparte.
Não deixa de ser simbólico e significativo que, no concurso dos Grandes Portugueses, o próprio José Hermano Saraiva se tenha vindo a classificar num honroso 26º lugar, sem dúvida a enaltecer a sua figura enquanto percursor no panorama áudio visual da história-espectáculo. Porque vale a pena relembrar aos mais saudosos e mais esquecidos que a sua estreia televisiva data do tempo em que a televisão fazia serviço público.
Ainda me lembro do programa inicial de José Hermano Saraiva, em 1971, chamado O Tempo e a Alma, das suas extraordinárias características de comunicador e da minha total ausência de espírito crítico, que seguia atentamente a apresentação de uma sua tese em que defendia que a popular figura de chapelão nos painéis de São Vicente não era o retrato do infante D. Henrique, mas sim o do infante D. Pedro.
Não sei qual o estado actual de tão arrojada tese, mas entretanto fui lendo mais algumas coisinhas de História, também graças a encorajamentos alheios mais recentes, e aprendi a desconfiar daqueles desenvolvimentos que José Hermano Saraiva fazia (e ainda faz) nos programas que apresenta, onde dá muito mais cor e enredo aos factos conhecidos depois de preâmbulos que podem ser parecidos com este: - Não é impossível que D. Dinis tivesse pensado em…
Ora a História é construída com base nos acontecimentos que se sabe que aconteceram e em deduções sobre outros que os podem explicar. Podem-se reinterpretar os factos e o seu fio condutor. Mas, em qualquer das circunstâncias, trabalha-se sempre no domínio do que foi possível saber que aconteceu, o que, apesar do jogo da semântica, é uma coisa muito distinta das não impossibilidades que José Hermano Saraiva frequentemente invoca.
Enfim, percebe-se porque o que José Hermano Saraiva apresenta é uma coisa distinta, com horizontes rasgados à imaginação e onde não há lugar à indiferença porque, por causa disso, a narrativa nunca poderá ser enfadonha. É o princípio que privilegia o espectáculo em detrimento do rigor, também muito em voga aqui na blogosfera, como muito bem assinala a Sofia Loureiro dos Santos a propósito do documentário sobre Salazar.
Nos dois casos dos blogues por ela mencionados (arrastão e portugal dos pequeninos), ao lado dos 180º aparentes que os separam, une-os o facto de, mais do que sustentar as causas que fundamentam a opinião daquilo que querem expressar (o que poderia resultar num enfadonho poste comprido que alguns leitores não estariam dispostos a ler), o que compensa é substituí-las por petulância, convicção e assertividade, adicionados, se possível, a algum radicalismo inovador na opinião que se expressa!...
Não deixa de ser simbólico e significativo que, no concurso dos Grandes Portugueses, o próprio José Hermano Saraiva se tenha vindo a classificar num honroso 26º lugar, sem dúvida a enaltecer a sua figura enquanto percursor no panorama áudio visual da história-espectáculo. Porque vale a pena relembrar aos mais saudosos e mais esquecidos que a sua estreia televisiva data do tempo em que a televisão fazia serviço público.
Ainda me lembro do programa inicial de José Hermano Saraiva, em 1971, chamado O Tempo e a Alma, das suas extraordinárias características de comunicador e da minha total ausência de espírito crítico, que seguia atentamente a apresentação de uma sua tese em que defendia que a popular figura de chapelão nos painéis de São Vicente não era o retrato do infante D. Henrique, mas sim o do infante D. Pedro.
Não sei qual o estado actual de tão arrojada tese, mas entretanto fui lendo mais algumas coisinhas de História, também graças a encorajamentos alheios mais recentes, e aprendi a desconfiar daqueles desenvolvimentos que José Hermano Saraiva fazia (e ainda faz) nos programas que apresenta, onde dá muito mais cor e enredo aos factos conhecidos depois de preâmbulos que podem ser parecidos com este: - Não é impossível que D. Dinis tivesse pensado em…
Ora a História é construída com base nos acontecimentos que se sabe que aconteceram e em deduções sobre outros que os podem explicar. Podem-se reinterpretar os factos e o seu fio condutor. Mas, em qualquer das circunstâncias, trabalha-se sempre no domínio do que foi possível saber que aconteceu, o que, apesar do jogo da semântica, é uma coisa muito distinta das não impossibilidades que José Hermano Saraiva frequentemente invoca.
Enfim, percebe-se porque o que José Hermano Saraiva apresenta é uma coisa distinta, com horizontes rasgados à imaginação e onde não há lugar à indiferença porque, por causa disso, a narrativa nunca poderá ser enfadonha. É o princípio que privilegia o espectáculo em detrimento do rigor, também muito em voga aqui na blogosfera, como muito bem assinala a Sofia Loureiro dos Santos a propósito do documentário sobre Salazar.
Nos dois casos dos blogues por ela mencionados (arrastão e portugal dos pequeninos), ao lado dos 180º aparentes que os separam, une-os o facto de, mais do que sustentar as causas que fundamentam a opinião daquilo que querem expressar (o que poderia resultar num enfadonho poste comprido que alguns leitores não estariam dispostos a ler), o que compensa é substituí-las por petulância, convicção e assertividade, adicionados, se possível, a algum radicalismo inovador na opinião que se expressa!...
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