22 fevereiro 2007

O GRAU ZERO DA IGNORÂNCIA

Sucintamente, a definição do grau zero da ignorância é a daquela pessoa que está num estádio de ignorância tal que ignora até a dimensão da sua própria ignorância.

Um dos melhores exemplos do que descrevi são aquelas situações que frequentemente aparecem na televisão antes da selecção jogar, quando os entrevistados da reportagem não sabem a letra do hino nacional.

De embaraço em embaraço acabamos por chegar ao intelectual casual que a conhece e que a canta toda... Toda? O que angústia é que tanto o repórter como o intelectual que acabou de fazer o brilharete parecem desconhecer que a letra da Portuguesa é mais extensa do que aquela que é normalmente cantada:

Heróis do mar, nobre Povo,
Nação valente, imortal
Levantai hoje de novo
O esplendor de Portugal!
Entre as brumas da memória,
Ó Pátria, sente-se a voz
Dos teus egrégios avós,
Que há-de guiar-te à vitória!
Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!
Desfralda a invicta Bandeira,
À luz viva do teu céu!
Brade a Europa à terra inteira:
Portugal não pereceu
Beija o solo teu jucundo
O Oceano, a rugir d´amor,
E o teu braço vencedor
Deus mundos novos ao Mundo!
Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!
Saudai o céu que desponta
Sobre um ridente porvir;
Seja o eco de uma afronta
O sinal de ressurgir
Raios dessa aurora forte
São como beijos de mãe,
Que nos guardam, nos sustêm,
Contra as injúrias da sorte!
Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!

É certo que o desempenho da selecção não será afectado pela dimensão do hino, mas não custa nada instruir o repórter que, mesmo não sabendo a letra toda, aquela não é a letra toda. Até lhe dá um cunho mais instruído e mais patriota do que os apoiantes em geral, o que fica sempre bem em televisão!

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