A expressão «Momento 50 Livros» remete-nos para um episódio já com mais de dez anos, do Verão de 2012, quando o Expresso, num daqueles ataques de pedantismo institucional, se propôs elaborar mais uma das ene listas de livros «que toda a gente deve ler» (acima). Nessa altura, e neste mesmo blogue, acabei perguntando-me se, no futuro, viria a adquirir «um pretensiosismo idêntico ao da intenção de quem elabor(ou) estas listas, (ao qual) ripostarei simetricamente com uma lista de livros que, por sua vez, os sugestores (da altura) deve(ria)m ler». Acabou por ocorrer este fim de semana, o «momento 50 livros» provocado pela simplicidade medíocre como está a ser coberto o congresso que irá proceder à recondução excepcional de Xi Jinping à frente dos destinos da China. Os exemplos destes países onde o poder é monolítico e opaco (a Rússia é igual) são a demonstração de que o jornalismo pouco consegue fazer sem cumplicidades dos actores políticos. Sem essas cumplicidades uma cobertura eficaz destes eventos políticos torna-se mais exigente. E sem um conhecimento fundamentado sobre a história mais recente da China, as notícias a que podemos aceder pouco mais são do que retransmissões estilizadas da propaganda oficial, por falta de capacidade de separar o trigo do joio informativo. Abaixo, apresento 4 livros, por sinal todos do mesmo autor, que «todos os» jornalistas e opinadores sobre a China «devem ler» antes de se porem a falar sobre o assunto.
Dos 4 livros, o segundo será o melhor de todos, nomeadamente por tudo aquilo que revela, que era quase desconhecido até à data da sua publicação. Recebeu o prémio Samuel Jonhson de 2011. Contudo o terceiro livro será mais impressionante pela descrição de um devaneio colectivo num país que contava então com mais de 700 milhões de pessoas. E o livro menos bem conseguido será o quarto (tanto cronologicamente, como por ordem de saída), cobrindo o período depois da morte de Mao. Apesar disso, contém um dos ensinamentos práticos mais importantes: a de que as estatísticas na China não são minimamente fiáveis. Em 1983, o organismo chinês encarregue das estatísticas empregava 16.000 pessoas enquanto o seu congénere soviético da época empregava 220.000 (p.41). O padrão não se terá alterado de há 40 anos para cá e, para além disso, todos sabemos como os estatísticos dos países autoritários têm tendência a reportar dados que agradem às autoridades. Portanto, quaisquer números que sejam brandidos nestas ocasiões solenes pelos responsáveis chineses, são sempre para ser acolhidos com toda a circunspecção.
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