Estive muito atento às reacções - especialmente às reacções críticas - à entrevista de Emmanuel Macron e acabei a concluir que o tópico mais criticado não foi o das contas que ele ali apresentou sobre a garantida insustentabilidade do regime vigente da segurança social francesa. A crítica mais contundente e propagada foi... sobre o seu relógio. O relógio estava no pulso ao princípio da entrevista (à esquerda), mas, porque o proprietário terá considerado (segundo fontes do palácio do Eliseu) que ele fazia um barulho irritante no tampo da mesa quando ele gesticulava, retirou-o discretamente por debaixo da mesa por volta do décimo minuto da entrevista (à direita, depois disso). Porque (desconfio) nada haveria a refutar ao que ele disse, o relógio de Macron tornou-se a estrela da entrevista para os media e as redes sociais. O relógio foi apreçado, mas as avaliações variam disparatadamente 50 vezes, entre os €80.000 e os €1.600. Em suma, um disparate, em que se visa pessoalmente Macron porque não há propriamente argumentos para refutar aquilo que tem que ser feito, sem que alguém apresente formas alternativas de o fazer. Mas aquilo que mais me incomoda é ver, com tantos comentadores que temos por cá nos media e nas redes sociais, eu não ter dado conta nem de um, sequer, que se atreva a dizer aquilo que eu considero óbvio: aquele milhão de franceses que têm alimentado com os seus protestos o espectáculo mediático, podem estar muito chateados, mas tenho a certeza que não vão conseguir nada quanto à questão das reformas. E este aqui abaixo, qualificado como «editor de Internacional da CNN/Portugal», é apenas um caso de tantos que eu tenho visto em cima do muro, sem se comprometerem.
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