Tradução de um artigo da The Economist que, ao menos, me parece possuir algum grau de equidade
Qualquer presidente francês que se atreva a pedir aos seus
concidadãos para se aposentarem mais tarde, fá-lo por sua própria conta e
risco. Já quando Jacques Chirac tentou fazê-lo em 1995 (há 28 anos!), as
reacções foram tais que ele abandonou o projecto e ano e meio depois os
eleitores demitiram o seu governo. Formaram-se pilhas de lixo a apodrecer nas
ruas, como hoje tornou a acontecer nas avenidas de Paris. Os apanhadores do lixo
foram uns dos que aderiram à greve contra a decisão do actual presidente,
Emmanuel Macron, de aumentar a idade mínima de reforma dos 62 para os 64 anos.
É por isso que terá sido com algum alívio que, em 20 de Março, o seu governo
minoritário sobreviveu por pouco a dois votos de desconfiança, abrindo caminho
para que esta sua reforma seja finalmente promulgada.
Mas o presidente francês ainda não se safou. A lei deve ser ainda
aprovada pelo conselho constitucional. E os franceses mais activistas ainda
sabem melhor do que muitos como usar a força dos protestos quando tudo mais
falha. Em 2006, protestos por todo o país forçaram o então primeiro-ministro , Dominique
de Villepin, a revogar novas regras trabalhistas para os jovens, mesmo depois
delas terem entrado em vigor. Agora, mais uma vez, os líderes da oposição estão
a agitar as ruas para derrubar uma reforma da qual não conseguiram bloquear no
parlamento. E não se pode excluir o risco de uma confrontação continuada, como
a que a França testemunhou durante o movimento dos gilets jaunes.
Macron parece determinado a não se mostrar pressionado pelos
manifestantes – e com toda a razão. A sua
reforma da previdência social pode ser imperfeita, mas é essencial. A França
gasta agora 14% de seu PIB em pensões públicas, quase o dobro da média dos
países da OCDE. E esse fardo está aumentando à medida que a população
envelhece. A França abriga hoje 17 milhões de aposentados, ou seja, 4 milhões a
mais do que em 2004. Aumentar a idade de aposentadoria é uma das maneiras mais
segura de colmatar a lacuna de financiamento do sistema, como já se provou em
vários outros países europeus (incluindo Portugal).
No entanto, a vitória tangencial do presidente teve um alto
custo político. Depois de não conseguir persuadir o público, os sindicatos ou a
oposição da necessidade imperativa da sua reforma, Macron julgou que não se poderia
arriscar a uma votação parlamentar normal. Em vez disso, recorreu a uma
disposição constitucional extraordinária que colocou em risco a sobrevivência
do seu governo. Note-se que o processo é perfeitamente legal: já foi usado 100
vezes desde que Charles de Gaulle o introduziu, inclusive para construir a dissuasão
nuclear da França. Mas está a ser brandido cada vez como uma forma de impor uma
decisão contra a vontade do povo. Para Macron, cujo estilo arrogante e
sobranceiro de governar (idêntico ao de vários dos seus antecessores) irrita
muita gente, o uso neste caso da medida extraordinária reforça a impressão de
que ele não está disposto ouvir reclamações.
Isso é perigoso, porque a vitória tangencial de Macron não deve
ser o fim de suas ambições de reformar a França. Ainda haverá muito a ser
feito, desde a meta das emissões líquidas zero, à obtenção do pleno emprego até
um melhor sistema educativo em áreas difíceis e remotas. O presidente de (apenas)
45 anos ainda está no primeiro ano de seu segundo mandato, cheio de energia e de
ideias. Mas os observadores políticos já estão especulando em 2027, e para a
ameaça sombria que ele pode ter de entregar as chaves do palácio do Eliseu a
alguém dos extremos, como Marine Le Pen. A menos que Macron possa melhorar a
vida de seus concidadãos, ele não conterá o caldo
de cultura que alimenta o populismo.
Mesmo aí, um perfil de reformador pode não ser o suficiente.
Uma liderança democrática necessita da dinâmica constante e cuidadosa da
autoridade mas também do consentimento. Agora, mais do que nunca, Macron
precisará corrigir seu jeito solitário e mostrar aos franceses que não
desrespeita nem o parlamento, nem o povo.
Com a guerra na Ucrânia, a Europa beneficia-se com a
existência de uma França forte e estável, que é a segunda maior economia da UE
e o seu único peso pesado militar.
Para a França, impor a reforma da previdência social sempre seria o seu segundo
melhor resultado. Para Macron, é uma nota que em política nem sempre é
suficiente estar-se certo.
Porém, a lição é mais vasta do que isso. Aqueles que em
França querem que o seu próximo presidente provenha de um centro democrático, e
não da extrema-direita, não se podem agora dar ao luxo de ficarem calados. Não é
apenas Macron que é o culpado pela confusão. Um grupo de parlamentares republicanos
de centro-direita, muitos dos quais apoiam esta reforma, estão a tentar
fazer-se de esquecidos nesta fase. O seu
silêncio político, significativo quando sabem muito bem que a França precisava
desta mudança, está a ser míope e cobarde. E eles podem acabar por pagar um
preço alto por tanto manobrismo.
O último parágrafo do texto acima visa criticar os protagonistas políticos franceses pertencentes às áreas Democráticas, mas a admoestação assenta que nem uma luva a variadíssimas opiniões que se têm vindo a exprimir por cá, a começar e só por exemplo, por esta acima, emitida pelo Guru a quem se atribuiu a responsabilidade pela última maioria absoluta do PS, o salvador da actual situação enrascada. Um gajo que é um profissional a inventar as tretas que se promovem em campanhas e que sabemos ser um cínico quanto à sua sinceridade, aparece-nos agora, armado em ingénuo, a cobrar pelo valor facial as tretas impigidas pela campanha de Macron!?...
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