Originalmente publicado a 3 de Março de 2018, continua tão oportuno! Os tempos é que mudaram um bocado depois da pandemia, porque se nota que os colaboradores deixaram de ser tão colaborantes.
3 de Março de 2013. Tinha lugar mais um dos referendos que se realizam com ignorada regularidade na Suíça. Este, porém, parecia muito mais engraçado do que a demasia. A iniciativa (denominada por extenso por «iniciativa popular contra as remunerações abusivas», mas se sintetizara para «iniciativa Minder» em atenção ao proponente que mais se expusera), nascera de uma reacção ultrajada da opinião pública suíça às cláusulas contratuais de uma data de executivos de topo de várias empresas suíças de destaque que, apesar das suas perdas colossais (UBS) ou até mesmo dos seus colapsos (Swissair), os protegiam financeiramente das consequências dos seus evidentes maus desempenhos. A vontade de alterar essa impunidade escandalosa, revestiu-se inicialmente de um abaixo assinado promovendo um referendo a uma alteração à Constituição suíça. O abaixo assinado foi subscrito por 118.583 pessoas, ultrapassando as 100.000 legalmente necessárias para que a proposta fosse submetida a referendo. O que aconteceu precisamente há cinco anos. A proposta para que as remunerações dos membros dos conselhos de administração das empresas suíças cotadas passasse a ser muito mais escrutinada ganhou com 67,9% dos votos. Geograficamente também saiu vencedora em todos os cantões (mapa acima). Pormenor curioso e indicativo de que nem sempre o dinheiro investido em campanhas é determinante para o desfecho das eleições: os apoiantes da proposta terão gasto 200 mil francos enquanto os seus oponentes terão despendido oito milhões de francos, ou seja quarenta vezes mais! E isto aconteceu na Suíça, país paradigma do capitalismo, sede da Nestlé e de tantas outras multinacionais. A proposta, que afinal apenas pretende reforçar o papel dos accionistas na negociação dos salários dos executivos de topo, foi incorporada na Constituição mas os executivos de topo das empresas, que continuam na prática a dominar os dois lados da mesa de negociações (é por isso que ganham o que querem...), já arranjaram formas de contornar a lei. Mas o que me parece maravilhoso foi a forma como depois não houve significativas ondas de choque da iniciativa, a comunicação social mal falou disso, tudo parece ter sido abafado, apesar de ter acontecido na Suíça. Tivesse sido uma proposta de Hugo Chávez lá na Venezuela e aí talvez tivéssemos ouvido falar dela... O que é engraçado é como este assunto tende a reaparecer em agenda, por muito que se perceba que, quem manda, o queira varrer para debaixo do tapete... Ainda a edição de hoje do Jornal de Notícias tem uma chamada de primeira página para o facto de que António Mexia ganha 52 vezes mais do que o empregado médio da EDP. Alguém está convencido que ele valha assim tanto mais que os outros... os colaboradores, como agora se diz?
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