Republicação
5 de Março de 1933. Há 90 anos realizavam-se na Alemanha as oitavas eleições (em treze anos) para a eleição de um novo parlamento (Reichstag). Mas desta vez fora diferente. O Partido Nacional Socialista (NSDAP) instalara-se no poder há pouco mais de um mês e esse facto já se fizera notar na forma como decorrera a campanha eleitoral. Adicionando tensão ao momento político, o próprio edifício berlinense onde decorriam os trabalhos parlamentares incendiara-se a uns meros seis dias do acto eleitoral (abaixo). Encontrara-se rapidamente o incendiário: um comunista holandês. Estas eleições, as últimas disputadas com um mínimo de liberdade na Alemanha antes dos nazis se apoderarem totalmente do poder, costumam ser apresentadas como um exemplo da volubilidade do eleitorado que, voluntaria, colectiva e obtusamente, sacrificou os seus direitos democráticos num momento crucial. É um comentário tão errado quanto costuma ser repetido. Na verdade e como se vê no gráfico acima, o NSDAP, apesar de ter alcançado 43,9% dos votos e de ter ganho as eleições, não conseguiu alcançar a maioria absoluta da representação no Reichstag (288 deputados em 647 - faltaram-lhe 36). (Faz lembrar o PàF em Outubro de 2015...). Só que Adolf Hitler (ao contrário de Pedro Passos Coelho) não se isolara politicamente e tinha interlocutores, e assim margem de manobra negocial, para alargar a sua base parlamentar de apoio para concretizar aquilo que pretendia fazer: foi com os 52 votos favoráveis do DNVP (acima, a amarelo) e, sobretudo, com os 73 do Centro Católico (Zentrum, a azul esverdeado), para além dos dos outros partidos mais pequenos que a Gesetz zur Behebung der Not von Volk und Reich foi aprovada e promulgada em duas semanas, a 20 de Março de 1933. Aquela que ficou conhecida por Lei de Concessão de Plenos Poderes, concedia a Adolf Hitler precisamente isso: plenos poderes. Claro que hoje é muito incomodativo recordar que foi um partido católico, então tido por moderado, que acabou por entregar legalmente o poder absoluto ao NSDAP e a Adolf Hitler. É possível (mesmo razoável) argumentar que, não fora assim, Adolf Hitler apossar-se-ia do poder ilegalmente mas isso não passará de especulação histórica e será por isso que o melhor que se faz nos dias que correm é esquecer o acontecimento, que raramente vejo referido (ao contrário das eleições e do incêndio). A CDU democrata-cristã continua a ser um dos grandes partidos alemães.
Sem comentários:
Enviar um comentário