23 março 2023

PARA ESTE PEDITÓRIO JÁ TODOS TEREMOS DADO...

Comprovando que, para a maioria da comunicação social portuguesa Lisboa é Lisboa, e o resto do país é paisagem, e para que o assunto dos (poucos) padres que têm vindo a ser afastados preventivamente (e a conta gotas) como consequência do relatório sobre o abuso de menores ganhasse uma outra dinâmica mediática, devidamente fulanizada, foi preciso que um dos afectados pertencesse a uma das mais importantes paróquias lisboetas. (Até parece que a este padre temos a obrigação de o conhecer...) Não temos, mas ao padre em destaque acresce o interesse de ele pertencer, aparentemente, à corrente ultramontana (ultraconservadora) da igreja católica. E de contar com André Ventura entre os fiéis do seu rebanho. Será tudo isso que conferirá tanta ressonância mediática aos seus votos de protesto pela decisão cautelar que foi assumida pela hierarquia da arquidiocese lisboeta de o suspender. Todavia, no campo das mais veementes proclamações de inocência no meio mediático, a sociedade portuguesa tem o subconsciente saturado de proclamações do género, até mesmo, ou especialmente quando, o assunto é a pedofilia, recorde-se o Caso Casa Pia e o palco infinito que foi - e continua a ser... - concedido a Carlos Cruz, mau grado as sentenças judiciais que desmentem tantas e tão veementes proclamações de inocência. Mas, sobretudo, o que estes epifenómenos mediáticos podem ocasionar (e não o deviam), é desviar-nos as atenções do que me parecem ser as conclusões mais importantes da investigação que foi levada a cabo sobre os abusos sexuais de menores na igreja católica: os casos foram, na sua grande maioria, abafados institucionalmente durante décadas; exposto isso, o comportamento das hierarquias da instituição não parece ter-se modificado substantivamente depois disso

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