24 dezembro 2019

O «DESAPARECIMENTO» DAS CINCO VEDETAS CONSTRUÍDAS EM FRANÇA PARA A MARINHA ISRAELITA

24 de Dezembro de 1969. Do porto francês de Cherburgo «desapareceram» subitamente cinco vedetas, as últimas de doze que ali haviam sido construídas numa encomenda que havia sido feita por Israel em 1965 ao estaleiro CMN. Desde essa altura, ocorrera a Guerra dos Seis Dias em 1967 (com a vitória israelita) e as relações diplomáticas entre a França e Israel, outrora robustas no que se referia ao fornecimento de equipamento militar, haviam evoluído em sentido negativo. Tanto que, em 1968, o general de Gaulle ordenara o estabelecimento de um embargo ao fornecimento de material de guerra a Israel. Entre os fornecimentos suspensos, incluíam-se parte (cinco) destas vedetas de mísseis para a marinha de Israel, que foram entretanto concluídas num estaleiro naval de Cherburgo e que ficaram a aguardar destino (e o armamento) enquanto o imbróglio político se resolvia, conforme se pode apreciar nesta fotografia acima, de três delas, placidamente acostadas, numa foto tirada em Setembro de 1969. Nessa altura, os israelitas ainda esperariam que o novo presidente francês, George Pompidou, eleito em Junho de 1969, alterasse a disposição da França em relação aos fornecimentos militares a Israel, mas isso não veio a acontecer.
Foi assim que, na noite da consoada de há cinquenta anos, os israelitas realizaram uma das suas típicas operações clandestinas, em que as suas tripulações de manutenção presentes em Cherburgo e sob um pretexto falso, roubassem as cinco vedetas, aproveitando a descontracção nas condições de segurança no porto propiciada por se estar na quadra do Natal. Só dois dias depois a notícia se tornou notícia, como se confirma por esta referência publicada no Diário de Lisboa a 27 de Dezembro. Por essa altura, as vedetas foragidas já estavam a navegar em pleno Mediterrâneo, como se percebe pelo mapa em hebraico abaixo. Elas só chegarão a Israel a 31 de Dezembro, com a assistência de alguns navios que os israelitas haviam disposto previamente ao longo da rota de fuga. Com o episódio, os israelitas marcaram pontos, os franceses perderam-nos. Todos? Não. Alguns franceses ganharam com isso, nomeadamente o estaleiro naval que recebeu finalmente o pagamento integral da encomenda. Mais do que isso, e por causa da publicidade do episódio - afinal as lanchas seriam tão boas que os israelitas se dispuseram a roubá-las! - que o estaleiro veio a receber encomendas daquele mesmo género de pequenos navios da Alemanha Federal, da Grécia, do Irão, da Líbia e da Malásia.

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