12 dezembro 2019

A SUSPENSÃO DA GRÉCIA

12 de Dezembro de 1969. A notícia internacional em destaque era a provável suspensão da Grécia como membro do Conselho da Europa. É uma notícia antiga de cinquenta anos mas com estranhas ressonâncias modernas, recorde-se a sua crise financeira iniciada em 2009, e as reacções que suscitou em vários dos seus parceiros europeus, quando ostracizaram a Grécia. Há cinquenta anos, contudo, o problema que empurrava a Grécia para o lote dos indesejáveis entre os europeus era político e não financeiro. Em Abril de 1967 houvera um golpe de Estado na Grécia. Instituíra-se um regime militar que ganhou o nome de Ditadura dos Coronéis. A ditadura era, como já aqui a descrevi no blogue, uma... ditadura. E nada compatível com os valores democráticos subscritos pelos restantes dezassete países membros do Conselho da Europa - cujo seu primeiro objectivo é «defender os Direitos do Homem e a Democracia parlamentar e assegurar a preeminência do Direito». Os restantes países membros haviam aguardado mais de dois anos e meio pela evolução do regime grego depois do golpe e, sem sinais de uma inflexão na sua conduta, decidiam-se agora pela suspensão do país da organização. Mas o que para mim mais interessante é nesta notícia é o que nela não se diz... Por um daqueles milagres da censura implícita, o leitor lia a notícia até ao fim induzido a depreender que Portugal seria um dos países que avaliava a conduta da Grécia. Não se escrevia expressamente que era assim, mas também não se explicava como é que era. Porque o que haveria para explicar era desagradável: é que Portugal (e a Espanha) não eram membros do Conselho da Europa. E não eram membros da organização porque esta só acolhia Democracias parlamentares, ou seja, precisamente por essa mesma razão que estava por detrás da decisão de suspender a Grécia... Era profundamente irónica a primeira página da edição do Diário de Lisboa daquele dia.

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