25 dezembro 2019

A EXECUÇÃO DE NICOLAE CEAUSESCU

Começo por registar o zelo como, menos de um dia depois da sua publicação, o vídeo inserido foi «removido por violar os termos de utilização do You Tube». Não pelo gesto, que as imagens de um julgamento sumário seguido de uma execução não são bonitas de se ver e nada se perde pela sua remoção. Mas pela celeridade como se procedeu à remoção, sintoma como o patrulhamento parece eficaz, embora o critério para o fazer me deixe perplexo. Alguém detém a propriedade das imagens de como o casal Ceausescu foi morto e, pelos vistos, zela por a exercer. Na prática, e como a minha intenção era apenas ilustrar a brutalidade escusada (e obscura nos seus propósitos) para com o ditador romeno, o vídeo violador poderia ter sido substituído por um qualquer fotograma da cena, já que o essencial da mensagem, a minha repulsa, está contido nas palavras que escrevo e não naquilo que escolhi para complementar tal opinião. Mas preferi deixá-la assim, com os traços da remoção bem à vista, já que realça o aspecto sórdido de que tudo o que foi evocado se revestiu.
25 de Dezembro de 1989. Aquele que fora até aí o dirigente comunista supremo da Roménia, Nicolae Ceaușescu, é executado imediatamente depois de um julgamento sumaríssimo que o condenou à pena capital. Como episódio final de um colapso encadeado, mas até aí pacífico, dos vários regimes comunistas da Europa de Leste, este desfecho surpreendentemente sangrento acabava por levantar questões que o tempo nunca esclareceu cabalmente: porquê, mais do que a necessidade, esta nítida premência em eliminar o ditador o mais rapidamente possível? Duas explicações se especulavam para justificar essa premência: o novo regime assentava em bases frágeis e o antigo regime poderia contra-atacar ou, então, as eventuais cumplicidades dos membros mais proeminentes do novo regime com o antigo, cumplicidade essas que poderiam ser expostas por Ceausescu se ele continuasse vivo. De toda a forma, Ceausescu não merecia tal sorte, naquelas circunstâncias. Até poderia ter sido condenado à morte, mas em consequência de um julgamento público que enfatizasse o que fizera para merecer tal pena. Se todos os novos regimes pós-comunistas da Europa de Leste foram acolhidos com simpatia a Ocidente, o da Roménia nunca se livrou da desconfiança deste enorme pecado original da execução nunca cabalmente explicada do ditador comunista.

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