19 dezembro 2019

A CONDENAÇÃO DE ERICH VON MANSTEIN

19 de Dezembro de 1949. Em Hamburgo termina o julgamento de Erich von Manstein (1887-1973), um dos mais destacados marechais-de-campo do exército alemão durante a Segunda Guerra Mundial. Num tribunal que, ao contrário do de Nuremberga (que era inter-aliado), fora organizado exclusivamente pelos britânicos, Manstein foi condenado por nove das dezassete acusações a uma pena de 18 anos de prisão, por causa das responsabilidades da conduta das suas tropas - especialmente contra os judeus - quando estivera engajado na frente Oriental. Ter-se-á feito justiça, mas a sanção ocorreu num momento político inoportuno, quando as intenções de sancionar os responsáveis alemães durante o período do nazismo se estavam a adequar (em qualquer dos dois lados da cortina de ferro...)às novas realidades da Guerra Fria. Mas, provavelmente tão importante, o réu terá sido o oficial general alemão que melhor se promoveu depois da Guerra. Tinha por detrás de si (aquilo que hoje designaríamos por) um lóbi, um lóbi poderoso, que incluía, na Alemanha, o recém eleito chanceler Konrad Adenauer e, no Reino Unido que o condenara, o influente autor Basil Liddell Hart e o próprio ex-primeiro ministro Winston Churchill.
Por força das suas opiniões e influência, o segundo dos nomeados, Basil Lidell Hart, é considerado o autor principal do culto de vários mitos a respeito do desempenho de alguns dos generais alemães da Segunda Guerra Mundial, nomeadamente as excelências táctica dos comportamentos de Rommel e estratégica do comportamento de Manstein, qualquer deles bem acima dos seus camaradas de armas. Outro aspecto colateral da influência das opiniões de Hart foi ter ajudado à criação do mito de uma Wehrmacht decente, quando em contraste com o comportamento das SS nos campos de batalha (e fora deles). Nem sempre é  verdade: como se comprova por este interessante livro abaixo de John Keegan (de 1995), as batalhas da Segunda Guerra Mundial continuaram a ser retravadas, agora tendo como fito a reputação dos protagonistas. Quando ao caso concreto do julgamento de Manstein de há setenta anos, o que posso dizer é que nunca vislumbrei que as críticas, muito poderosas que fossem, incidissem sobre as matéria de facto julgadas que haviam resultado naquela sentença de 18 anos de prisão... Deles, Manstein cumpriu apenas três anos e meio, veio a ser libertado em Maio de 1953.
Nota: as imagens do vídeo são da sessão inicial do julgamento em Agosto de 1949.

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