11 de Dezembro de 1989. As notícias internacionais de há precisamente trinta anos deviam ser um completo desconsolo especialmente quando publicadas num jornal de indisfarçáveis simpatias pró-comunistas, como era o caso acima do Diário de Lisboa. Na página dedicada à política internacional (p.11), o panorama noticioso da Europa de Leste apresentava-se deprimente para o leitor habitual: ele era a formação do primeiro governo não-comunista da Checoslováquia, acompanhada da demissão do seu presidente, um dos mais fiéis dos moscovitas; da Bulgária noticiava-se uma espécie de purga, em que a liderança comunista de topo era afastada; e na Alemanha Oriental, dita Democrática, a notícia era que o PC ia mudar de nome, uma notícia de um rigor assim-assim, já que o Partido Comunista local também nunca se denominara comunista: fora socialista e unificado, agora os tempos de mudança impunham-lhe que se denominasse uma outra coisa qualquer. De uma página que exemplificava o colapso do marxismo-leninismo em que o leitor mais comum do Diário de Lisboa fervorosamente acreditara, só se salvava mesmo o anúncio da Câmara Municipal de Lisboa e a venda dos pinheiros de Natal... Podemos acrescentar ainda um retoque de ironia adicional a todo o momento histórico. Se recuperarmos uma página daquele mesmo jornal, datada de precisamente dez anos anos antes (dia por dia: 11 de Dezembro de 1979), nela podemos ver que, com um destaque superior (p.3), se dava voz a uma opinião que o sistema capitalista atingira o ponto de ruptura. Terminava assim: «A História é irreversível. Os acidentes de percurso não possuem significado especial». Ámen. Os comunistas, que tão intectualmente arrogantes se haviam mostrado por décadas, agora contemplavam o desmoronar do que se revelava uma grande fraude.
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