20 de Dezembro de 1989. Os Estados Unidos invadem o Panamá. A administração Bush (pai) deu à operação o nome de Causa Justa e invocou para a sua realização o propósito benigno da deposição do ditador local, um general chamado Manuel Noriega. Esta parte da história foi rapidamente descartada quando se percebeu que a versão oficial dos americanos tinha uma certa dificuldade em combinar-se com os factos: como acontecia com tantas outras altas patentes em países centro-americanos, Noriega fora anteriormente o homem de mão dos Estados Unidos no Panamá; o que é que acontecera para se terem zangado? Trinta anos passados, ainda há várias versões. Mas o que eram (e continuam) límpidas são as razões para que os Estados Unidos se interessem pelo Panamá: é ali que se localiza o canal por onde se conecta a via de navegação mais curta entre as duas costas dos Estados Unidos. É assim um dos países latino-americanos onde é mais evidente o direito dos americanos ao exercício do seu direito de pernada quando a situação política local não evolui de feição*. Foi o que aconteceu há 30 anos e, sinal dos tempos e da decrepitude do contra-poder dos soviéticos, a assembleia geral da ONU condenou, previsivelmente, a invasão norte-americana numa votação inequívoca (75 pró, 20 contra mas significativas 39 abstenções), mas o folclore mediático das indignações da esquerda anti-imperialista da Europa ocidental veio a revelar-se uma sombra do que havia sido a tradição.
* Para contraste, aprecie-se como nada de vital estará em causa no caso actual da Venezuela.
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