O Diário de Lisboa de 23 de Dezembro de 1939 dava-nos conta, numa das suas páginas centrais, das deambulações do académico francês Abel Bonnard. Pela sua agenda, deduzia-se que o académico iria passar o Natal entre nós. Nada se esclarecia quanto a isso mas as razões talvez não fossem acidentais. Mais do que o seu posicionamento ideológico (durante esta visita ele terá sido recebido por Salazar), Bonnard era conhecido pelas suas simpatias francamente pró-alemãs, o que o tornariam mal-quisto na França em guerra. Se a sua conferência na Sociedade de Geografia era sobre «O Mediterrâneo e os barbarescos», o que o trouxera até nós passar a consoada haviam sido outras razões prementes, e do presente de então: a hostilidade no seu país natal. A partir da Primavera de 1940 e com a vitória dos alemães na Batalha de França e o regime de ocupação a que esta foi submetida, Abel Bonnard iria desforrar-se: iria passar os quatro Natais seguintes em França e mesmo na qualidade de ministro da Educação do governo de Vichy desde 1942. Mas tudo isso acabará em poucos anos: Bonnard passará os anos (e os Natais) restantes no exílio, primeiro na Alemanha até 1945 e depois na Espanha, até à sua morte em 1968 com 84 anos, um dos mais dedicados colaboracionistas franceses.
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