Em lugar discreto (última página), mas mesmo assim destacado para o que havia para noticiar (nada), a edição de há cinquenta anos do Diário de Lisboa dava conta que «regressara naquela manhã a Lisboa o conhecido advogado e homem público e nosso (do jornal) distinto colaborador, dr. Mário Soares.» Não se especificava de onde viera, mas a novidade de 1969, consistia no fenómeno de Mário Soares andar pelas páginas dos jornais, fruto da Primavera Marcelista, que permitia que se noticiasse que os dirigentes oposicionistas andavam por aí. Convém relembrar que por aqueles anos o Diário de Lisboa de Ruella Ramos era um vespertino lisboeta conotado com a oposição e, nesse aspecto, detentor de muito mais prestígio que A República, dirigida por Raul Rego. Este último era um jornal trauliteiro de tanto engajamento. O que lhes aconteceu depois do 25 de Abril, nomeadamente a captura do primeiro pelos comunistas e a guerra que se travou à volta do segundo entre comunistas e socialistas é que veio a reescrever a história do que os dois haviam representado antes do 25 de Abril. A Fundação Mário Soares penitenciar-se-á de tal falta, preservando on-line o arquivo do Diário de Lisboa, uma preciosidade que me tem sido de tanta utilidade.
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