07 julho 2019

CÂMBIOS PARALELOS

Em Madrid, a marcha do orgulho gay assinalou-se pela hostilidade como o corpo de manifestantes acolheu a delegação dos Ciudadanos, que acabou expulsa sob apupos. Pelos vistos, a causa da inclusão das minorias sente-se já tão forte que deixou, ela mesma, de praticar a inclusão. Como acontece com outras causas (referi-me à do feminismo ainda ontem, a propósito de ninguém se congratular com a ascensão de duas mulheres ao topo da hierarquia da União Europeia), a coerência de quem se exibe abraçando uma destas causas célebres e da moda, colapsa fragorosamente com o seu silêncio cúmplice diante de episódios deste género. Fazem-me lembrar aquelas moedas daqueles países de economia dirigida que praticavam um câmbio oficial (limitado) nos bancos, mas cujo câmbio paralelo que se praticava nas ruas era por uma fracção do valor anunciado. Só que aqui não se está a falar do valor da moeda, mas da ética e dos princípios. E, só para acrescentar mais um caso, o das indignações pela ilegalidade das escutas a Sócrates e Lula, que agora são complementadas por silêncios significativos quando as revelações vêm de escutas a Sérgio Moro, que está do outro lado da barricada. Estas últimas escutas já são boas... E eu concluo que a força do marxismo deste século XXI é o de Groucho: «Estes são os meus princípios, e se vocês não gostarem deles... bem, tenho outros».

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