12 de Julho de 1969. Enterrado na página desportiva da edição desse dia do Diário de Lisboa (e em minha opinião, no local certo para a importância que estes assuntos merecerão), aparece a notícia da posição negocial de Eusébio na ocasião de renovar o seu contrato com o Benfica. Recorde-se que na época Eusébio tinha 27 anos, fora a revelação da selecção portuguesa no Mundial de 1966, cobiçado por clubes estrangeiros, ainda era a estrela principal da equipa. E, se se ler o que consta da notícia, uma parte significativa das reivindicações que fazia estavam indexadas a resultados, individuais e colectivos. Mas o sentido geral da notícia não era propriamente aprovador para as pretensões do jogador. Em contraste, João Félix tem 19 anos, ainda não fez nada que se comparasse com Eusébio a não ser alimentar a imprensa que se alimenta do assunto e fazer com essa imprensa saturasse o panorama informativo (numa altura de defeso) com a notícia dos muitos milhões que a sua transferência já vinha a custar de há muito. Tudo isto é uma palhaçada que nem sequer terá os benefícios de audiência que nos querem fazer crer. E quem é que quer apostar quantos saberão quem terá sido João Félix daqui por cinquenta anos?...
Embora a notícia tivesse um certo tom sensacionalista e enganasse os leitores com a verdade, o facto é que dez contos por dia era dinheiro a sério ao tempo, numa época em que um automóvel de gama média como um VW 1300 (Carocha) custava cerca de sessenta contos.
ResponderEliminarOs tais dez contos convertidos para valores actuais, e considerando a inflação, corresponderiam a cerca de € 3.300,00, pelo que o salário de Eusébio se poderia hipoteticamente elevar a € 100.000,00 mensais, o que ainda hoje, mesmo no mundo do futebol, não é um valor nada desprezível.
Sinceramente, não sei onde quer chegar. Para demonstrar que o crescimento do salário dos jogadores de futebol aumentou muito mais do que a inflação, e sem precisar sequer de actualizações, recordo-o que há sensivelmente 20 anos, o mesmo Benfica pagava mais do que os € 100.000 (25.700 contos por mês) a um jogador tão mediano quanto João Pinto (ou seja, cerca de € 180.000 a valores actualizados).
ResponderEliminarE, por outro lado, há que considerar o estatuto de que gozava então Eusébio. Não sendo "um valor nada desprezível", indique-me uma estrela de primeiro plano do futebol mundial actual que, aos 27 anos, se disponha a ir jogar para um clube por € 100.000,00 mensais...
Finalmente, repetindo o que já dissera no texto original, os valores de referência do potencial ordenado de Eusébio assentavam no pressuposto que ele seria o melhor marcador do campeonato, que o Benfica o ganhava, etc. Ora, e só para recordar, mantendo a comparação, João Pinto terá marcado 3 golos na temporada 1999-2000, o campeonato desse ano foi ganho pelo Sporting, etc, mas ele continuava a ganhar os 25.700 contos por mês.
Pretendia tão-só sublinhar que os valores apontados não eram assim tão irrisórios para a época (final dos anos 60 e nem sequer o são hoje em clubes de médio ou pequeno porte, mesmo nos grandes campeonatos nacionais)e nada mais. Tem razão quanto ao resto que afirma no seu artigo inicial e agora neste seu comentário: em termos proporcionais e absolutos, os futebolistas de topo ganham muito mais do que Eusébio ganhava no seu tempo, mas também as receitas geradas pelo futebol de alta competição na actualidade (direitos de televisão, publicidade e "merchandising")são infinitamente superiores às do tempo de Eusébio.
ResponderEliminarPois, mas eu em lado algum qualifico os valores reivindicados por Eusébio como irrisórios. E as partes em negociação eram Eusébio e o Benfica, que não qualificaria à época de clube de médio ou pequeno porte. O que enfatizei é que o sentido geral da notícia não era de todo simpático para com o jogador, ao contrário do que hoje acontece, em que o jogador recolhe sempre a simpatia da opinião publicada. Reparou como esta passou "ao lado" do episódio da evasão fiscal do Cristiano Ronaldo?
ResponderEliminarCerto, mas eu também não afirmei que o Benfica fosse um clube de médio ou pequeno porte, e sim - insisto - concordo consigo quanto ao facto de que a notícia inicial é antipática para com Eusébio, jogador que ao tempo já era de classe mundial, por contraposição à simpatia com que João Félix é agora tratado pela comunicação social, não passando ainda de uma mera esperança a confirmar.
ResponderEliminarQuanto ao caso de Cristiano Ronaldo e ao litígio que o opôs ao fisco espanhol, confesso que o desconheço de forma pormenorizada, embora saiba, por experiência pessoal e profissional, o quantas vezes as máquinas fiscais agem sectariamente e não poucas vezes com má-fé, estribando-se em interpretações abusivas e mesmo contrárias à letra e espírito das leis vigentes. Mas isto já nada tem a ver com o assunto que estava sendo discutido e portanto por aqui me fico.