A edição de há oitenta anos do Diário de Lisboa até dedicava todo um quarto de página à situação em Espanha, três meses depois do fim da guerra civil (1936-39). O âmbito das notícias variava desde o que dissera o conde Ciano (ministro dos Estrangeiro italianos) até um estranho enxerto de porrada sofrido pelo cônsul de França em Madrid, enquanto frequentava um «dancing». Mas a notícia que eu quero destacar não é nenhuma daquelas: o Diário de Lisboa não a publicou, embora o assunto estivesse a ser acompanhado pela imprensa britânica (leia-se abaixo). O Julián Besteiro (1870-1940) cujo desfecho do julgamento interessava os jornais ingleses era um catedrático e político espanhol, antigo presidente do PSOE e do parlamento espanhol durante a república (1931-33). Representava a ala mais moderada dos socialistas espanhóis e desempenhara um papel discreto e ponderado do lado dos republicanos ao longo do conflito que acabara de terminar. O caso de Besteiro seria importante para perceber como seria a atitude do regime franquista para com os vencidos. O que o jornal português não podia dizer (e que se soubera em Londres) era que o colectivo dos generais do conselho de guerra que julgara Julián Besteiro o condenara à prisão perpétua pelo delito de «rebelião militar», comutada de imediato em trinta anos de prisão. Um insulto cínico desnecessário, esta última benevolência, quando se sabe que Julián Besteiro iria completar 69 anos daí a dois meses... E cumpriu pouco mais de um ano, pois faleceu em Setembro de 1940. Estava dado o sinal de como o regime franquista pretendia não cicatrizar as feridas que haviam sido deixadas pela guerra. Da próxima vez que se voltar a falar da exumação de Franco, lembrem-se deste episódio.
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