Se a Crise dos Sinos fora ultrapassada com a remodelação governamental que aqui evocámos há dias, o ambiente que se viveria entre alguns comandantes militares da facção derrotada não se apresentava de molde a tranquilizar o poder. Elemento chave no controle da potencial contestação era o ministro da Guerra do novo governo acabado de empossar, o (então) coronel Amílcar Barcínio Pinto, que substituíra naquele cargo o general Júlio Morais Sarmento, que fora o protagonista da facção derrotada pela crise. E, para o ajudar, na edição do Diário de Lisboa de há precisamente 90 anos, essa novel figura da hierarquia político-militar tinha direito não a uma mas a duas notícias que o destacavam (o que, contando com a publicidade, num jornal com oito páginas é notável). Uma breve entrevista (acima) em que confessava não ter ideia alguma para a condução da pasta mas em que (por acaso...) o líamos numa passagem a elogiar Salazar («...respeitando inteiramente a grande política financeira do sr. ministro das Finanças...») e, menos dissimuladamente, a presidir a uma cerimónia de apresentação de cumprimentos (vulgarmente designada por beija mão) por parte da «oficialidade da guarnição militar de Lisboa». Tempos longínquos em que não se podia descartar a hipótese que uma facção militar derrotada na política produzisse um pronunciamento militar. Agora, esses tempos estão esquecidos. Os cuidados da Constituição portuguesa de 1976 obstaram - e bem - a que esses tempos ressurgissem.
Infelizmente, o que surge cada vez com mais crueza e à luz do dia é que a luta política agora se trava nos tribunais, com os juízes conotados com uma ou outra facção.
Sem comentários:
Enviar um comentário