28 maio 2014

UM DOS PIORES TITULARES DA PASTA DA DEFESA

Louis Arthur Johnson (1891-1966) foi, entre Março de 1949 e Setembro de 1950, o segundo titular (secretário) da Defesa nos Estados Unidos. E 65 anos depois permanece um sério candidato, numa eventual classificação de todos os titulares daquela pasta, a ser considerado como o pior ocupante desse cargo. Como acontece muitas vezes nas administrações norte-americanas, nada o qualificava especialmente para ele, mas foi um presidente Harry S. Truman (1884-1972) agradecido a recompensá-lo assim por ter conseguido gerir financeiramente com um sucesso inesperado a sua campanha da eleição presidencial de 1948, angariando uns esforçados 20 milhões de dólares numa época em que entre a esmagadora maioria dos opinadores já se contava com o regresso inevitável dos republicanos à Casa Branca, milhões aqueles que se revelaram preciosos para financiar a sua tão memorável quanto inesperada vitória.
Mas aos talentos de angariador de fundos de Louis A. Johnson não corresponderam outros predicados equivalentes na nova função executiva para que o presidente o escolheu, uma pasta complicada que resultara da fusão recente (1947) entre dois departamentos tão tradicionais (e rivais) quanto os da Guerra (Exército) e da Marinha. Parecia que o esforço de redução da importância dos militares na administração norte-americana, que atingira o seu apogeu nos finais da Segunda Guerra Mundial (1944-45) com um volume de despesas rondando os 90 mil milhões de dólares, se transpunha também para a orgânica da própria administração presidencial, fundindo os dois departamentos dos ramos militares mais tradicionais, em vez de conceder um terceiro à nascente Força Aérea. Não era decididamente tarefa fácil: o antecessor de Johnson, James Forrestal (1892-1949), resignara com um esgotamento nervoso.
Mas, no afã de compactar o orçamento da defesa até ao objectivo desejado pelo poder político, Louis A. Johnson perdeu de vista os principais objectivos estratégicos dos Estados Unidos. A aposta no investimento tecnológico, no poder indisputável da arma nuclear e na capacidade da Força Aérea a poder usar a longa distância, em detrimento das forças convencionais, mostrou-se errada quando a União Soviética alcançou a paridade nuclear (Setembro de 1949) e quando eclodiu a Guerra da Coreia (Junho de 1950), colocando os Estados Unidos perante um desafio que não se podia resolver com uma bomba atómica. Na continuação, a falta de tacto agravava o problema. Todos os titulares daquela pasta de todo o Mundo exploram a rivalidade entre os ramos das Forças Armadas mas Johnson tinha um estilo que, conjugado com a sua obsessão pelas reduções orçamentais cegas, irritava particularmente as chefias militares.
A acrescer, não percebendo notoriamente nada de defesa, Johnson achava que percebia de relações externas, favorecendo o lóbi pró-China e com isso imiscuía-se nas competências do seu colega Dean Acheson (1893-1971), o secretário de Estado. Este, que era outro sacana, mas competente, acabou por urdir uma espécie de conspiração com as chefias militares, onde se montou um aumento do orçamento da Defesa ao arrepio da opinião do próprio secretário da pasta! A eclosão da Guerra da Coreia e a impreparação demonstrada pelas forças militares convencionais, que as chefias facilmente atribuíram à política de cortes indiscriminados que fora feita até aí, selaram a carreira de Louis A. Johnson três meses depois. A sua biografia da Wikipedia, previsivelmente, considera-o o bode expiatório dessa impreparação. E sete meses depois de Johnson, foi a vez do afastamento doutro responsável pelo fiasco: Douglas MacArthur (1880-1964).
É verdade que a obcecação de Louis A. Johnson com directivas orçamentais que já haviam começado a ser impostas antes da sua assunção da pasta apenas agravou muitos dos erros cometidos. Mas o pormenor da conspiração montada por Acheson contra si mostra o quanto ele não prestava para a pasta que detinha. Alguns pormenores abonam, ainda assim, em favor de Johnson. Em primeiro lugar, ele havia cumprido o serviço militar servindo como capitão em França durante a Primeira Guerra Mundial. E em segundo lugar, quando se deixava fotografar aparecia à civil, evitando a indecência de parecer mascarado. Nem isso se pode dizer de José Pedro Aguiar-Branco. Comentava-se por aí que Pedro Passos Coelho iria aproveitar a ressaca das eleições europeias para proceder a uma remodelação governamental. Quando e se o mudar, já vai tarde: Aguiar-Branco já ocupou a pasta quase o triplo do tempo desperdiçado com Johnson.

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