Gerry Adams é um dirigente político irlandês e a face visível do Sinn Féin, o partido republicano que se tem batido (hoje pacificamente mas outrora de armas na mão) pela reunificação da Irlanda. Talvez de forma simbólica, Adams (que nasceu em Belfast, na Irlanda do Norte) é actualmente (desde 2011) um TD (deputado) do parlamento de Dublin, depois de ter sido até aí um MP (deputado - embora permanentemente ausente) do parlamento britânico em Westminster e também um MLA (ainda com o mesmo significado de deputado…) do parlamento regional de Belfast. Mas Gerry Adams tem estado a tornar-se o protagonista de uma discreta mas insistentemente incómoda notícia com o prolongamento do seu interrogatório referente a um rapto seguido da execução de uma alegada informadora das autoridades britânicas que ocorreu nos finais de 1972, no apogeu do período de The Troubles, há mais de 40 anos. A conversa, que começou anteontem quando Adams se apresentou voluntariamente numa esquadra da polícia norte-irlandesa (como os seus amigos gostam de frisar), tem-se vindo a prolongar ao abrigo de uma Lei Anti-Terrorista que possibilita a extensão da conversa até um período máximo de 28 dias de detenção (expressão que os inimigos de Adams preferem para qualificar o seu actual estatuto).
O prolongamento da conversa que está a tolher a liberdade de circulação de Gerry Adams (eis uma formulação mais equidistante) indicia que tenham aparecido algumas novidades nos fundamentos de uma acusação que já é antiga – e que sempre subsistira no ar – porque o cargo outrora desempenhado por Gerry Adams no IRA clandestino de Belfast de 1972 o tornava um dos responsáveis pela autorização para a execução de uma mulher de 38 anos chamada Jean McConville, informadora dos britânicos. Tratando-se de uma viúva com 10 filhos, era previsível que a execução estaria vocacionada para se revelar num fiasco em termos de imagem do IRA, mais um episódio sórdido daquelas acções revolucionárias clandestinas, que por cá se preferem romantizar (vejam-se os exemplos de Palma Inácio, Isabel do Carmo ou ainda Otelo Saraiva de Carvalho - abaixo), mas que a realidade, porque desprovida do falso véu da ideologia, acaba por transformar tantas vezes em puros episódios de cariz mafioso. Solidariamente há quem procure chamar a atenção para a oportunidade do episódio e para os danos que o mesmo pode causar ao Sinn Féin nas próximas eleições europeias. Seria uma hipótese a acolher se as sondagens mostrassem intenções de voto no Sinn Féin passiveis de vir a alterar politicamente o destino do Ulster. Mas não. Aliás, o que os aliados de Adams e defensores dessa teoria da conspiração na sua detenção se esquecem de mencionar é que o Sinn Féin já foi o vencedor das últimas eleições europeias realizadas no Ulster (2009). A reedição de uma tal vitória dificilmente justificará uma tal conspiração contra um dos seus líderes.
Adenda: Gerry Adams veio a ser libertado quatro dias depois sem que qualquer acusação lhe tivesse sido formulada.
Sem comentários:
Enviar um comentário