Envelhecer deve ser isto: sensações repetidas de déjà vu. Ontem enquanto escrevinhava a minha cruz no quadro à frente do LIVRE, veio-me uma sensação súbita de recuar bruscamente 27 anos e voltar a fazer o mesmo num outro boletim de voto, embora o partido em questão dessa outra vez fosse o PPM. E apenas o reavivar desse passado deu-me subitamente a certeza que também desta vez tudo acabaria para Rui Tavares da mesma forma como outrora acabara para Miguel Esteves Cardoso. Não que a constatação viesse acompanhada de hesitações: tratava-se mais de um voto destinado a avalizar a conduta de um eleito que saía do que uma concordância ideológica com um candidato que se reapresentava.
Mas, ao mesmo tempo, não deixei de achar refrescante a perspectiva (que se veio a confirmar) de que, mais ou menos uma vez por geração, a intelectualidade portuguesa se poder confrontar com a sua real representatividade dentro da sociedade. O espirituosíssimo Miguel Esteves Cardoso tinha recolhido 2,8% nas eleições europeias de 1987, o mais bisonho - mas também muito estimado - Rui Tavares conseguiu 2,2% nestas de 2014, ambos fracassaram na sua intenção de serem eleitos para o parlamento europeu. Tive pena das duas vezes. Mas a minha reacção desta vez é temperada pela esperança que deste episódio se reforce a constatação do quão escassa é a influência dos que são tomados por formadores de opinião.
Convém, todavia, recordar que os 2,8% de MEC - em quem então também votei - correspondiam ainda assim a 120.000 votos, muito mais do que Rui Tavares agora conseguiu.
ResponderEliminarNão foram 120.000, foram bastantes mais, quase 156.000 votos.
ResponderEliminarConvém todavia acrescentar que as eleições europeias tiveram lugar no mesmo dia que as legislativas, o que elevou a afluência às urnas para 5,6 milhões de eleitores, algo que nunca mais foi sequer aproximado (3,0 a 3,6 milhões nos últimos 20 anos).