Entretidos como andávamos com o 25 de Abril de 1974 e os acontecimentos imediatamente subsequentes, só anos depois é que, quem presta atenção à actualidade política espanhola, se veio a inteirar daquilo que fora o Gironazo (lê-se gironaço), um movimento desencadeado por várias mas protagonizado sobretudo por uma alta figura da hierarquia franquista chamada José Antonio Girón (1911-1995), que se opunha frontalmente a quaisquer tentativas de abertura do regime espanhol dos que tentavam evitar a ruptura que acontecera em Portugal. Estruturados à volta de uma organização informal de irredutíveis a que a imprensa espanhola não tardou a baptizar de Búnker, o Gironazo assumia o aspecto de um conjunto de editoriais e proclamações grandiosas (à espanhola!) de quem não estava disposto a reconhecer outra legitimidade que não a do 18 de Julho, sendo 18 de Julho a data do movimento militar que em 1936 (ou seja, quase quarenta anos antes dos acontecimentos!) desencadeara a Guerra Civil que os conduziria ao poder.
Ouça-se a assertividade confiante de um discurso de Girón, fazendo um trocadilho com o significado da palavra imobilista, para continuar no mesmo teor populista, cheio de palavras como inquietação, injustiça ou a invocar o dever de travar aqueles que querem desfazer aquilo que consideram a sua obra e o remate proclamando-se pateticamente como homens da acção diante de uma audiência onde a idade média superaria nitidamente os 60 anos. Atendendo à semelhança de formato, é fácil compará-lo com Vasco Lourenço, que a bondade da causa da Democracia que defende – e que eu creio que faz genuinamente! – não pode servir sempre de alibi para todos os disparates que ele profere. É que, para mais e ao contrário do que acontecia com o Búnker de Girón, que era politicamente homogéneo, Vasco Lourenço não me parece representar o colectivo dos que compõem a Associação 25 de Abril, onde, por detrás dele se vêm alinhar variadíssimos nomes de militares que, ao contrário de si, foram derrotados a 25 de Novembro de 1975 quando defendiam outras concepções políticas não democráticas, totalitárias.
No meio de tanta camaradagem e de tanta referência benévola a Abril, convém não esquecer que, se esses outros militares de Abril, outrora revolucionariamente vermelhos e hoje mais discretamente cinzentos, tivessem vencido em 25 de Novembro de 1975, é bem possível que o desassombro de discursos de Vasco Lourenço como este acima lhe pudessem custar aborrecimentos… Mas não é isso que é importante. Talvez se se puder ver o argueiro em olho alheio (neste caso em Girón), Vasco Lourenço consiga finalmente aperceber-se do quanto as proclamações grandiloquentes se tornam patéticas a partir de uma certa idade. Afinal, foi graças a ele que eu creio que se consagrou a expressão brigada do reumático para designar as altas patentes que em vésperas do 25 de Abril foram prestar vassalagem a Marcello Caetano (abaixo). Ouvi a expressão décadas a fio. Pois bem, estará na hora de Vasco Lourenço e os militares de Abril tomarem consciência dum facto irrefutável: eles hoje estão em média dez anos mais velhos do que os integrantes da brigada que ridicularizaram…
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