A forma como se se invoca a doutrina Monroe quando se fala de relações internacionais serve normalmente para mostrar as raízes dos conhecimentos históricos de quem a ela se refere. É que a doutrina Monroe, anunciada em 1823 pelo presidente norte-americano que lhe empresta o nome, e que proclama que os continentes americanos, através da condição de liberdade e independência que haviam acabado de conquistar e assumir, não estariam dali em diante dispostos à colonização por quaisquer potências europeias, não passaria, considerado qual era o poder relativo das potências da época, de uma bravata irresponsável. Os Estados Unidos até faziam fronteira com uma colónia, o Canadá, de uma potência europeia que nem era uma potência qualquer, mas a mais poderosa do Mundo de então: uma década antes os dois países haviam estado em guerra e os britânicos haviam desembarcado, conquistado e incendiado a própria capital federal de Washington, a sede da administração do antecessor de James Monroe.
Era ridículo que uma nação que nem conseguira defender a sua capital se propusesse engajar num conflito que a poderia levar a (tentar) projectar um poder militar e naval (que provavelmente nem teria) a milhares de quilómetros das suas fronteiras. Esse solene compromisso norte-americano de auxiliar qualquer país americano cuja soberania fosse ameaçada por um outro exterior ao hemisfério só veio a ser levado a sério muito posteriormente e só à medida que o poder dos Estados Unidos foram crescendo e que estes dispuseram dos meios para o fazer valer. Por vezes e ironicamente, este crescimento foi feito à custa desses mesmos países que na doutrina Monroe se anunciava defender: veja-se abaixo como a expansão dos Estados Unidos ao longo do Século XIX é realizada em boa parte à custa da aquisição (stricto sensu) ou da anexação militar de territórios mexicanos. No final do Século XIX a interpretação da doutrina Monroe já fora pervertida para se tornar num direito de ingerência em qualquer país latino-americano.
Mas, mesmo nessa época, o resultado da Guerra de 1812 havia estabelecido que esse direito de ingerência não se estendia a quaisquer possessões britânicas nas Américas (Canadá, Jamaica, Guiana, etc.)...
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