Morreu Rolf Nicolaus Cornelius Gurlitt (1932-2014), o homem que aos 24 anos herdou uma colecção de mais de 1.400 quadros de pintores de nomeada com um valor inestimável, na ordem das muitas centenas de milhões, mas que preferiu viver o resto da sua vida discretamente, apreciando algumas dezenas delas emolduradas nas paredes de sua casa e vendendo de quando em vez (através de métodos clandestinos que viriam a ser a sua perdição) uma das obras da herança. Esta vida discreta – exemplificada acima pela placa do apartamento de Munique onde morava – durou 54 anos até ser interceptado num comboio vindo da Suíça por funcionários aduaneiros alemães que encontraram na sua posse uma importância significativa (mas não escandalosa) de numerário (9.000 €). Na continuação da investigação, descobriu-se que Cornelius Gurlitt não existia nos sofisticados, complexos e totalitários sistemas fiscal e de segurança social da Alemanha, antes de se vir a encontrar a desconcertante colecção que guardava em casa. Numa outra perspectiva, Cornelius Gurlitt também não existia pelos padrões sociais do nosso tempo: embora detentor de uma fortuna colossal, provavelmente por causa da sua origem duvidosa, nunca tomou qualquer iniciativa para a legitimar e para poder exibir-se como seu proprietário. Talvez felizmente para ele, Cornelius Gurlitt morreu seis meses depois de atingir a notoriedade e um mês depois de ter sido anunciado que chegara a um acordo com o estado alemão para a devolução das obras da colecção, formada por seu pai sob a protecção do regime nazi, onde a aquisição aos proprietários originais (judeus) se mostrasse mais duvidosa.
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