Sempre considerei que havia duas indecências no filme Proposta Indecente (1993). A primeira é a imediata, a da proposta de Robert Redford ao jovem casal (Demi Moore/Woody Harrelson). A segunda indecência é o alvo da proposta, Demi Moore. Por muito fatal que a tentem fazer ao longo do filme, não me convencem a conferir-lhe a categoria que justifique o milhão de dólares. Passa-se coisa parecida com a proposta do FMI que o Jornal de Negócios hoje torna pública. Aquilo que aparece publicado não se torna apenas indecente pelo conteúdo, mas também pela forma como está apresentado, como se fosse intenção deliberada desencadear a hostilidade simultânea de (quase...) todas as corporações do nosso país. E assim como Demi Moore parecia uma deusa inverosímil, no FMI não se costuma entregar a redacção deste género de relatórios a quadros que sejam tão socialmente obtusos como transparece daquela notícia. A não ser que a redacção e a publicação da proposta sejam deliberadas para, ao assumir-se como o pior dos males, conferir uma maior latitude negocial ao governo. Nesse caso, continua a ser indecente, não a proposta, mas a manobra política.
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