Vladimir Myasishchev (1902-1978) era um engenheiro aeronáutico soviético especializado no desenho de aviões de grande envergadura quando, em 1951, foi colocado à frente de uma equipa de trabalho responsável pela concepção de um bombardeiro capaz de operar a grandes distâncias. A ideia da criação de um bombardeiro estratégico rápido, movido a jacto, capaz de transportar armamento nuclear alcançando os Estados Unidos partira directamente de Estaline embora, com a tecnologia existente nessa época, isso só fosse possível desenhando uma aeronave de dimensões tais que se tornaria impraticável à descolagem. Todavia, a motivação socialista que Estaline suscitava fez com que o primeiro protótipo desse projecto tivesse feito o seu voo inaugural em 1953, embora já depois da morte de Estaline (Março), o que poupou alguns desconfortos a Myasishchev e à sua equipa, porque o resultado do seu trabalho fora um aparelho de concepção arrojada, de longo raio de acção (5.600 km), mas sem autonomia...
...suficiente para atingir os Estados Unidos. Porém, o que a seguir se narra, a história da entrada ao serviço deste avião é um episódio típico da competição tecnológica da Guerra-Fria. Com quase 50 metros de comprimento e um pouco mais do que isso de envergadura¹ o Myasishchev M-4, que fora baptizado com o nome de Molot (Молот: Martelo), era um colosso aéreo impressionante demais para não ser aproveitado como demonstração do poder aéreo soviético, independentemente das limitações estratégicas acima apontadas. Foi lançado – i.e. apresentado ao público e aos especialistas militares ocidentais – por ocasião de uma das tradicionais paradas da Praça Vermelha em Maio de 1954. Na NATO deu-se-lhe a designação apropriada de Bison (bisonte). Ficou famosa uma manobra soviética durante um festival aéreo em Julho de 1955, quando se fizeram passar repetidamente os mesmos aviões sobre os espectadores para dar uma impressão inflacionada de uma frota de bombardeiros que afinal...
...não existia. A reacção norte-americana à encenação soviética foi também canónica da gramática da Guerra-Fria: a CIA aproveitou-se do incidente para inflacionar as capacidades do inimigo, anunciando uma previsível esmagadora superioridade inimiga em bombardeiros para daí a uns anos, pretexto para que se acelerasse a construção dos seus… os B-52. Na verdade, apesar do arrojo conceptual e do seu aspecto impressionante, o M-4 não foi um desenho muito bem concebido. O bombardeiro eleito pelos soviéticos acabou por ser o Tupolev Tu-95 que, usando turbo-hélices, tinha menos aspecto que o seu concorrente, mas que possuía a autonomia requerida. Os soviéticos só chegaram a construir 93 M-4 (em 1986 a NATO ainda pensava existirem uns 200…) e a maior parte delas vieram a ser reconvertidas para missões de patrulhamento marítimo, embora a sua existência ameaçadora já tivesse servido de justificação para que os Estados Unidos tivessem construído uma imponente frota de 744 bombardeiros B-52.
¹ Para comparação, os maiores aviões comerciais a jacto da época tinham entre 30 (o Comet britânico) e 40 metros (o ainda embrionário Boeing-707) de comprimento e envergadura.
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