04 janeiro 2013

OS SÁBIOS E NÓS

William Thompson, Lord Kelvin (1824-1907), foi uma das grandes referências científicas do Século XIX, especialmente no – sempre desconfortável para mim… – campo da física. Em sua homenagem, a unidade de medida da temperatura do Sistema Internacional recebeu o seu nome: o Kelvin (K). Acessoriamente e em contraste, Lord Kelvin foi também o autor de algumas das maiores patacoadas publicamente proferidas por um cientista de renome: em 1895 considerou que máquinas voadoras mais pesadas que o ar eram impossíveis; em 1896 qualificou os raios X de uma fraude; em 1897 antecipou que a rádio não tinha futuro; em 1902 insistia novamente que nenhum balão ou aeroplano viriam a ter qualquer utilidade prática.
 
É apenas decente que a História prefira realçar as descobertas de Lord Kelvin e remeter para um canto esquecido aquelas suas opiniões de septuagenário, mas isso não nos deve impedir uma reflexão análoga sobre a validade das opiniões de todos aqueles sábios de provecta idade que nos aparecem repetidamente na televisão a opinar com segurança sobre os mais variados problemas actuais. Como se percebe flagrantemente pelo exemplo de Lord Kelvin, os méritos de passado podem não ser garantia de valia na actualidade. Será preferível escutá-los sempre com um polido cepticismo. O recente episódio Artur Baptista da Silva demonstra-nos que não podemos contar com os jornalistas para fazer a triagem por nós... 

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