Estes
parecem estar a tornar-se tempos de um combate político feroz onde tende a imperar
uma correspondente eloquência apaixonada, de fazer lembrar as Catilinárias,
quatro discursos proferidos pelo então Cônsul romano Marco Túlio Cícero em 63
a.C. denunciando as maquinações conspirativas de Lúcio Sérgio Catilina:
Até quando,
Catilina, abusarás tu da nossa paciência?! Por quanto tempo ainda este teu
furor nos enganará?! Até que fim esta audácia desenfreada te jactará?! (…) Ó
tempos! Ó costumes! O Senado sabe estas coisas; o cônsul Cícero vê-as: todavia
este Catilina ainda vive. Vive? Mas muito mais ainda, vem ao Senado; faz-se
participante do conselho público; nota e designa com os olhos cada um de nós
para a morte. Nós, porém, varões fortes, parecemos satisfazer à república se
evitarmos o furor e as armas deste Catilina. Ó Catilina, já há muito era
necessário que tu fosses conduzido para a morte, por mandato do cônsul Cícero;
que fosse levada contra ti esta peste que tu já há muito maquinas contra nós
todos (…) Enquanto houver alguém que ouse defender-te, viverás, e viverás de
tal modo como agora viveis, cercado das muitas e firmes guardas, para que não
possas levantar-te contra a república¹. (extracto da primeira Catilinária)
Porém se procurassem
somente no vinho e no jogo comeres intempestivos e meretrizes, nada se lhes
devia esperar na verdade, mas contudo se deviam de sofrer: mas quem poderá
sofrer isto, que homens inertes armem ciladas aos homens justíssimos, que os
estultos aos mais prudentes, os ébrios aos sóbrios, os sonolentos aos
vigilantes? Os quais, deitados nos banquetes, abraçando mulheres impudicas,
frouxos com o vinho, debilitados com tanta comida, coroados de flores, untados
de unguentos e enfraquecidos com os estupros, me ameaçam arrotando, em suas
conversas com a morte dos bons e os incêndios da cidade¹. (extracto da segunda Catilinária)
E, assim,
uma acção de graças, em meu nome, foi decretada aos deuses imortais pelo
singular merecimento daqueles, coisa que somente a mim togado coube
primeiramente depois da fundação desta cidade e foi decretada com estas
palavras: “Porque eu tinha livrado de incêndios a cidade, da morte os cidadãos
e da guerra a Itália.” Esta acção de graças, difere nisto: porque as outras
foram deliberadas por ter sido bem conduzida a república, e esta foi
estabelecida somente pela conservação da república¹. (extracto da terceira Catilinária)
Por isso, ó
senadores, sentenciai diligentemente e fortemente como começastes, acerca da
vossa salvação suprema e do povo romano, das vossas esposas e filhos, dos
altares e fogos, dos santuários e templos, das casas e moradas de toda a
cidade, do império e da liberdade, da salvação da Itália e de toda a república¹.
(extracto da quarta Catilinária)
A questão importante
nestes discursos, para quem conhece o detalhe do episódio, é que Cícero
representa a legalidade que Catilina quer subverter. Catilina é obrigado a
montar a conspiração que Cícero denúncia nestes discursos porque perdera a eleição
consular de 63 a.C. Agora imagine-se que Catilina a havia ganho…
¹ Tradução
de Nicolau Firmino.
Boa tarde,
ResponderEliminarGostaria de lhe pedir que enviasse um email para pjunqueiralopes@letra1.com, por forma a poder apresentar-lhe um projecto online.
Obrigado