16 janeiro 2013

AS CATILINÁRIAS

Estes parecem estar a tornar-se tempos de um combate político feroz onde tende a imperar uma correspondente eloquência apaixonada, de fazer lembrar as Catilinárias, quatro discursos proferidos pelo então Cônsul romano Marco Túlio Cícero em 63 a.C. denunciando as maquinações conspirativas de Lúcio Sérgio Catilina:
    
Até quando, Catilina, abusarás tu da nossa paciência?! Por quanto tempo ainda este teu furor nos enganará?! Até que fim esta audácia desenfreada te jactará?! (…) Ó tempos! Ó costumes! O Senado sabe estas coisas; o cônsul Cícero vê-as: todavia este Catilina ainda vive. Vive? Mas muito mais ainda, vem ao Senado; faz-se participante do conselho público; nota e designa com os olhos cada um de nós para a morte. Nós, porém, varões fortes, parecemos satisfazer à república se evitarmos o furor e as armas deste Catilina. Ó Catilina, já há muito era necessário que tu fosses conduzido para a morte, por mandato do cônsul Cícero; que fosse levada contra ti esta peste que tu já há muito maquinas contra nós todos (…) Enquanto houver alguém que ouse defender-te, viverás, e viverás de tal modo como agora viveis, cercado das muitas e firmes guardas, para que não possas levantar-te contra a república¹. (extracto da primeira Catilinária)
 
Porém se procurassem somente no vinho e no jogo comeres intempestivos e meretrizes, nada se lhes devia esperar na verdade, mas contudo se deviam de sofrer: mas quem poderá sofrer isto, que homens inertes armem ciladas aos homens justíssimos, que os estultos aos mais prudentes, os ébrios aos sóbrios, os sonolentos aos vigilantes? Os quais, deitados nos banquetes, abraçando mulheres impudicas, frouxos com o vinho, debilitados com tanta comida, coroados de flores, untados de unguentos e enfraquecidos com os estupros, me ameaçam arrotando, em suas conversas com a morte dos bons e os incêndios da cidade¹. (extracto da segunda Catilinária)
E, assim, uma acção de graças, em meu nome, foi decretada aos deuses imortais pelo singular merecimento daqueles, coisa que somente a mim togado coube primeiramente depois da fundação desta cidade e foi decretada com estas palavras: “Porque eu tinha livrado de incêndios a cidade, da morte os cidadãos e da guerra a Itália.” Esta acção de graças, difere nisto: porque as outras foram deliberadas por ter sido bem conduzida a república, e esta foi estabelecida somente pela conservação da república¹. (extracto da terceira Catilinária)
 
Por isso, ó senadores, sentenciai diligentemente e fortemente como começastes, acerca da vossa salvação suprema e do povo romano, das vossas esposas e filhos, dos altares e fogos, dos santuários e templos, das casas e moradas de toda a cidade, do império e da liberdade, da salvação da Itália e de toda a república¹. (extracto da quarta Catilinária)
 
A questão importante nestes discursos, para quem conhece o detalhe do episódio, é que Cícero representa a legalidade que Catilina quer subverter. Catilina é obrigado a montar a conspiração que Cícero denúncia nestes discursos porque perdera a eleição consular de 63 a.C. Agora imagine-se que Catilina a havia ganho…
¹ Tradução de Nicolau Firmino.

1 comentário:

  1. Boa tarde,
    Gostaria de lhe pedir que enviasse um email para pjunqueiralopes@letra1.com, por forma a poder apresentar-lhe um projecto online.
    Obrigado

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