Uma coisa é garantida: se Portugal tivesse subido os mesmos sete lugares, neste ou até mesmo noutro qualquer ranking (rankings de que normalmente nunca antes ouvimos falar...), o destaque noticioso que o Público lhe daria seria completamente outro, bem diferente do do centro da primeira página. Aliás, apetece repegar os dizeres do título (Portugal cai sete lugares no ranking da inovação e inverte trajectória de subida), para pedir - hipoteticamente - aos responsáveis do jornal para irem aos arquivos mostrarem-nos com que destaque haviam noticiado no passado a trajectória de subida... Googlando o assunto (o ranking da inovação) e a publicação (o jornal Público), a impressão que recolho é que nem se pode falar em destaque, porque nem notícias sobre o tema terá havido no passado*. Ou seja, quando a classificação de Portugal sobe, o assunto nem é notícia, quando desce, vem logo para a primeira página! Até à aparição da concorrência das redes sociais, estaria estabelecido o axioma entre o jornalismo português - transmitido de veteranos para novatos - que o público adorava notícias em que se dissesse mal do próprio país e/ou das próprias instituições: Só neste país! - como no refrão da canção de Sérgio Godinho. O problema (e a ironia) é que, como aqui faço, as redes sociais se apropriaram dessa apetência para se ser auto-flagelatório, tomando agora por alvo a própria comunicação social tradicional que consagrou a prática. E desse dizer mal, desse escárnio e mal dizer, já o jornalismo português parece não gostar, por muito que, como acontece neste caso, as críticas tenham toda a razão de ser. Ou, escrito de outro modo, se as notícias tendem a destacar que o país é uma merda, a sua comunicação social está à altura do que o país é.
* Ainda no mês passado, noticiou-se que «Portugal subiu para 36º lugar num outro ranking qualquer (o da competitividade...), mas o facto não terá interessado de todo ao Público, que nem o noticiou.
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