20 de Julho de 1961: a crise de Bizerta, entre a França e a Tunísia, atinge o seu apogeu. A Tunísia fora um protectorado francês desde 1881 até 1956. Quando a França lhe concedeu a independência, a 20 de Março de 1956, reservou para si o usufruto da base naval de Bizerta. A cidade de Bizerta era um daqueles portos naturais de fundação fenícia que ganharam depois relevância comercial durante o apogeu dos cartagineses e cuja localização se pode apreciar no mapa acima, dispensando as explicações sobre a sua importância no Mediterrâneo central.
Essa concessão da independência à Tunísia por parte da França também deve ser relacionada com a Argélia vizinha e com a guerra subversiva que lá se começara a travar para a sua independência desde há ano e meio. A França aliviara-se das suas duas outras possessões no Magrebe, Marrocos e Tunísia (acima), para se concentrar na Argélia, onde existia uma comunidade de um milhão de europeus que coabitava com uma maioria muçulmana de oito milhões.
Porém, a causa da solidariedade árabe depressa povoou as regiões fronteiriças da Tunísia com locais de treino e refúgio dos insurrectos argelinos da FLN (os triângulos do mapa acima) com a base naval à ilharga a incomodar a sua logística. Mas em 1961, quando se desencadeou a crise de Bizerta, quase tudo mudara. A França, agora dirigida por de Gaulle, desistira de se manter na Argélia e ela parecia enfraquecida, houvera até um pronunciamento militar em Argel para derrubar o governo.
Pelo menos fora esta a leitura do presidente tunisino, Habib Bourguiba, aos acontecimentos de Abril de 1961 em Argel, quando agora pretendia forçar a nota em proveito do seu país através de um pretexto: os franceses haviam procedido a obras de ampliação da pista de aviação sem o participar. A escalada que se seguiu atingiu o seu clímax a 20 de Julho de 1961 com três dias de violentos combates entre os militares franceses e a mistura político-militar tunisina¹ que se lhes opunha.
O desfecho – a captura da cidade propriamente dita pelos franceses – pode ser constatada no vídeo acima. Mas, como já acontecera em 1956 no Egipto com a Crise do Suez e estava em vias de acontecer com a Argélia vizinha, a superioridade táctica francesa não se conseguia concretizar numa superioridade política equivalente. O que ali se conseguiu foi o privilégio de determinar a data de abandono da base, em 15 de Outubro de 1963, só depois da independência da Argélia.
¹ No final desses combates os franceses tinham aprisionado 780 tunisinos, dos quais apenas 419 eram militares, 361 eram civis capturados com armas.
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