Leia-se o que escrevi abaixo sobre Espanha e perceba-se que, visto de fora, aquilo que por cá grassa enforma dos contornos de um fim de ciclo, falho de ideias e de dinâmica política na sua substância interior, mas ainda protegido pelas anteparas de um dispositivo comunicacional que marca os ritmos e os temas do que é publicado e discutido. Ninguém se atreve, no exemplo do destaque acima feito ao discurso do primeiro ministro, a perguntar a António Costa em que consiste concretamente a «libertação total da sociedade» que ele promete - sem prometer, já que só se «pode», não é garantido... - promete que se «atinja no final do Verão». De que aspectos precisos se revestirá essa «libertação»? É uma frase que, aposto, escreveram para ele dizer mas, quanto a conteúdos, António Costa não esclarece e, para além disso, não há condições - nem haverá jornalistas atrevidos... - para lhe pedir esclarecimentos a respeito do que dissera. Estas proclamações não significam nada, e só subsistem indisputadas porque costumam ser pronunciadas em ambientes mediáticos controlados. Estão, para a ciência política, como aqueles traques sonoros que se soltam na casa de banho: é verdade que provocam ressonância, mas não temos que nos preocupar com as suas repercussões... A analogia é cómica mas as consequências são graves: convencem os protagonistas políticos no poder que a ocupação do espaço mediático os perpetua naquele posto por si só.
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